quinta-feira, 26 de julho de 2012

terça-feira, 17 de julho de 2012

Emanuel - O Enviado de Deus.

Ele nasceu na metade do século. Velho Chico lhe trouxe à luz em Juazeiro da Bahia. E só em escrever essas palavras "Juazeiro da Bahia" minhas lágrimas escorrem quentes como o sol que ilumina as correntes do rio guerreiro, guerreiro como ele.

Eram nove crianças, cinco meninos e quatro meninas. Da sua mãe herdou o coração leve, do seu pai a profissão.
Todos tinham que estudar mas ele não queria, não gostava, outras coisas o atraiam mais. A natureza, a música, o mar, o sertão... Por que tem de fazer o que todo mundo faz quando o dinheiro não atrai?

Dos nove seguiu a linha do pai e sua lida era a linha do trem, cortando o estado com os vagões cheios de minérios e à sua volta uma Bahia pouco tocada e muito desejada por aquele rapaz.

Menino vivia a badogar passarinhos, nas férias em Itumirim. Quando o subúrbio ferroviário de Salvador era quase inacessível ele corria para a beira da maré, para os matos urbanos. Sempre um menino da terra. Sempre um menino.

"O meu pai trabalha na Rede Ferroviária Federal, Sociedade Anônima - RFFSA)" eu dizia. "Ele é maquinista". Saia cedinho, levava sua marmita, às vezes passava dias fora, mas estava sempre em casa. Em Contendas do Sincorá, em Brumado, em Cachoeira, em Santo Amaro... A casa do meu pai é o mundo e quando a máquina o aposentou, duas rodas lhe sustentaram para ir ainda mais longe. De bicicleta foi ao nascer do São Francisco, e foi à sua Foz também. Minas, Maranhão.... A Chapada Diamantina já deve dizer: "Lá vem ele outra vez!" Como dizia minha vó Miúda, sua sogra, quando o trem atravessava a ponte de manhã cedinho, chegando em São Félix: "Lá vem Manué!" E eu menina que adorava o interior, adorava quando ele chegava para dormir todo o dia e à tardinha me levar para passear nos paralelepípedos do nosso Recôncavo.

Cresci assim, colada nele quando podia. Depois de três filhas meninas, um homem teria de vir.. Sou menina, mas sou Paraíba.Sou sua filha, sou seu rapaz.

E assim cresci com este senhor que veio servir. Não posso calcular o benefício que ele é para a humanidade em sua volta mas para mim ele é a referência do aprendizado e do seguir no caminho espiritual. Com ele aprendi o que palavra nenhuma pode explicar, mas os momentos contam muito bem.

No Cine Bahia a gente assistia Batman e O Parque os Dinossauros.
Na feira de São Joaquim a lama preta respingava na gente e o umbu sempre deixava meus dentes rangindo. De lá voltávamos no trem, cheios de sacões.
De trem íamos também à Calçada, para o baba do fim de semana, que ele jogava com Catorze, Jovem, Jorginho, Clóvis e Raimundão. Eu era a torcida do meu pai. E tinha um beco perto do Bradesco onde ele me levava para comer corvina frita. As (outras) meninas não curtiam muito essas paradas que eu amava. Quando estava do seu lado tudo era mágico, porque não eram os lugares, era ele.

Antes dos meus doze anos, me ensinou o frescobol, o esporte do equilíbrio. E a concentração, e a preocupação com o parceiro, e as ondas da maré, e o pôr-do-sol, e os meninos empinando arraia na praia... Ah! Já empinamos arraia na praia. O céu enfeitado com nossos passarinhos de papel.

De bicicleta fomos no recôncavo, na linha verde, mas o primeiro pedal juntos foi só nosso, até Santa Bárbara. Um sol de lascar e uma alegria que nem te conto.

As pescarias de noite eram mais calmas, muitas estrelas no céu e uns peixinhos no anzol. Na volta ele me amarrava uma corda no tronco, eu me jogava na água. O vento soprava o saveiro e meu pescador me arrastava como uma linha de espera até chegar na beira da praia. À minha mãe só faltava um infarto. "Olha o que ele faz com a menina! E essa besta ainda vai!" Éramos bestas, e ainda somos bestas. De rir um do outro, de rir de pequenas coisas, de ser feliz. Adoro ser besta com ele.

Ele agora estuda violão. Adoro sentar no quarto para ouvi-lo tocar. Adoro cantar com ele. Tem hora que ele diz: "Você não sabe!" Eu respondo: "E você sabe?" Rimos juntos. Rimos muito.

Ele: "Pantera, como coloco essas fotos aqui no facebook." Eu: "Ihh, Teuzinho, você é muito chato!"

Neste dia 16 de julho de 2012 ele fez aniversário. Não nos falamos, ele está com sua mãe no Jorro, no seu Ser-Tão, dedicando amor àquela que o fez por toda vida, agora cansada mas com a sabedoria que poucos somam em uma jornada. Dona Aydil... Ele se lembra dela com uma admiração de brilhar os olhos. E aproveita o quanto pode para estar no colo da sua mãe. Fico bem quando ele está lá, porque lá ele bem também está. 

Neste dia do seu aniversário, não trocamos palavras mas esteve presente comigo por todo o dia, por toda a vida.

Depois que maturei descobri que não é só meu pai, é minha alma gêmea. É um guia que Deus designou para me compartilhar a sabedoria, para eu crescer no coração, na alma, no universo e no propósito do Pai. 
Por isso que veio como meu Pai.

Feliz Aniversário, Emanuel Pinheiro França. A minha vida é você.
 
 


sábado, 14 de julho de 2012

Os matos do meu jardim


No meu jardim de apartamento
Tem plantas em vasos
Elas tem pouco espaço
E crescem sem parar

No vaso das plantas
do meu jardim de apartamento
vez por outra nasce um mato
que não consigo arrancar

“E só é mato porque a gente não sabe o nome”
disse uma das flores do meu jardim

O mato nasce no vaso da planta
do meu jardim de apartamento
além das flores, namoro também o mato
e não consigo matá-lo

O tempo passa no apartamento
e os matos dos vasos das plantas do meu jardim
florescem como grandes nomes da natureza
sorrio para eles, brincamos com graça
sou grata por suas vidas
por não lhes ter condenado
por serem apenas mato

Os matos dos vasos das plantas do meu jardim de apartamento
me fazem um bem danado!

velo cidade




carros correm na veia
correm como cães raivosos
seus ruídos violam a alvorada
na rua que via, na rota vã


voa a noite vazia
do reino devorado
pelos roedores da vida
pelos rivais do universo


a veia então interrompe o rio
é a viagem do réu
que corria e agora vaga
venerando o canto rubro da dor