Há uma mancha em minha raça. Branca.
Corre em mim a cor da minha gente. Vermelha.
Já não sei de onde venho. Sou a miscigenação.
Eu sou parda
cor de três raças
dor de tantos irmãos
Eu sou o chão onde todo mundo pisa. O chão que chora de lamento
ou emoção.
O recôncavo me pariu. Mandou sua filha para São Salvador que
abençoou.
Meus pés gostam do barro do sertão. Minh’alma canta tão
profunda quanto a terra seca.
Fui potiguar e da Ponta do Seixas me apontou a mãe África.
Corri trecho e meu coração preto voltou às senzalas onde
servi com o mesmo amor que me entreguei ao homem índio, ao homem negro...
Hoje eu Rio...
Neste corpo carrego um tanto da alma que o universo assobia.
Ora sou energia, ora posso tocar.
Eu sou um país onde a união se faz possível, onde o encontro
é motivo de abraço.
Em meu lugar está ancorado um negreiro. Na proa tento a alquimia do amor. Transformar meu sangue em lágrimas que foram suor e já passou...
Aqui tento esquecer a dor que eu mesma causei, secar a
ferida que abri...
Pois já não tenho para onde ir e o sol me diz que a
chuva lhe contou, numa noite de lua crescente como esta, que é hora de se
arrepender, de chorar, pedir e perdoar...
É hora de entender que somos todos um só
amor, um só valor. Peças de um quebra-cabeça que cansou de desmontar. Vamos
uni-las e construir um dia mais bonito para todos que somos nós.
Não é utopia, nem demagogia, é união. Sinto aqui em mim essa missão.
Fácil?? Não. Simples??
Eu vivo. É a minha missão. Acredito, e a cada dia cumpro uma etapa com
amor, muita disciplina e fé.
Com o sol que nasce, todos os dias sinto uma nova
luz.
O amor convida para uma grande festa. É de graça e tem muita graça.
E como é bom dançar!!!