Hoje acordei um pouco mais cedo para deixar o carro na revisão e tomar um ônibus ao trabalho no último dia do ano atípico e oscilante. Mudanças de desabrochar.
De Paripe ao Uruguai fui pequena novamente e acreditei ter marcado com o destino aquela viagem.
Voltei ao trem que tomava até Periperi a aluna do Guadalupe. O trem que passava pelo túnel em Coutos e conservava a baía de Todos os Santos em suas janelas.
Ah, o trem... Que operava meu pai... O trem da ponte, da barca de Plataforma à Ribeira, das palafitas do Lobato, das pedras atiradas e acertadas pelos meninos da linha do trem. O trem que me trouxera de longe, me levara também.
No ônibus as vidas passam pela minha, ao lado do cobrador. Periferia é a multiplicidade da raça, dos extremos na revolta de passar fome e do isopor no carnaval, dançando com a latinha vazia no alto, como se aquela festa fosse somente sua. E os meninos atrás...
Viajar de coletivo pela periferia é ser conduzida pela minha cultura, pela liberdade do meu povo e por um orgulho sustentador. É também saudade... E impotência pelas dores da minha gente.
Quem me dera um transporte público mais saudável, vias mais saudáveis, motoristas mais saudáveis... Eu seria mais da minha cidade. De onde nasceram minhas descobertas.
Cresci e aprendi a dirigir, o meu carro (Bebel), não a minha vida. Essa vive escorrendo pelas vias da lembrança, da reflexão, do resgate... E agora no ônibus... No carro... No trem... - E mesmo que voe para bem longe, cante novas canções, viva novas paisagens e sinta novos ares – brinda o último dia de trabalho a Brasileira. A Cachoeira. A Maré...
De Tubarão,
Da Baía,
E do Trem.