sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Lembranças de uma Menina da Periferia.

Hoje acordei um pouco mais cedo para deixar o carro na revisão e tomar um ônibus ao trabalho no último dia do ano atípico e oscilante. Mudanças de desabrochar.

De Paripe ao Uruguai fui pequena novamente e acreditei ter marcado com o destino aquela viagem.

Voltei ao trem que tomava até Periperi a aluna do Guadalupe. O trem que passava pelo túnel em Coutos e conservava a baía de Todos os Santos em suas janelas.

Ah, o trem... Que operava meu pai... O trem da ponte, da barca de Plataforma à Ribeira, das palafitas do Lobato, das pedras atiradas e acertadas pelos meninos da linha do trem. O trem que me trouxera de longe, me levara também.

No ônibus as vidas passam pela minha, ao lado do cobrador. Periferia é a multiplicidade da raça, dos extremos na revolta de passar fome e do isopor no carnaval, dançando com a latinha vazia no alto, como se aquela festa fosse somente sua. E os meninos atrás...

Viajar de coletivo pela periferia é ser conduzida pela minha cultura, pela liberdade do meu povo e por um orgulho sustentador. É também saudade... E impotência pelas dores da minha gente.

Quem me dera um transporte público mais saudável, vias mais saudáveis, motoristas mais saudáveis... Eu seria mais da minha cidade. De onde nasceram minhas descobertas.

Cresci e aprendi a dirigir, o meu carro (Bebel), não a minha vida. Essa vive escorrendo pelas vias da lembrança, da reflexão, do resgate... E agora no ônibus... No carro... No trem... - E mesmo que voe para bem longe, cante novas canções, viva novas paisagens e sinta novos ares – brinda o último dia de trabalho a Brasileira. A Cachoeira. A Maré...

De Tubarão,

Da Baía,

E do Trem.

sábado, 17 de dezembro de 2011

no carnaval

frevo ou samba

para ouvir e dançar

recife rio bahia

todo lugar

todo samba ferve

todo frevo samba.

sábado, 10 de dezembro de 2011

itacimirim

na areia deixei uma linha de cabelo
para que os fios do oceano
teçam a cada manhã
minha vida nesse mar...
nesse lugar.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

a graxa

na roda flor
abre para vida

se mostra disposta
passada a casca
a dor
a ferida.

para vida desabrocha
flor no arrebol

não é uma delicada rosa
nem tulipa requintada.

sob luz de gira sol
no tapete marrom e verde
ao canto do vento lento...

dança cheia de graça
a graxa!

aquarius

era...
era deus
era terra
era

a nebulosa
a vela
era

um quarto
do todo
talvez...

era amarela a chuva
era aquarela o dia
era feliz o final

eram pontos perdidos
portos cheios
partes...
era eu

até chegar o fogo
o afago
a fonte
a força que energiza os montes

e traz...
pra cá
pra nada
lugar nenhum

despretensiosa unicidade
do universo
da cidade

sua idade, era, a dança do mundo
era um
era tudo.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Dança do Amor.

Uma agonia saltava da sua face tímida. Uma pela clara e serena em semblante recatado, ao mesmo tempo aflito. Segura sobre a dança do casal: Reservada, mais fácil ela não querer.

“É melhor primeiro o buquê ou a dança?” “Você acha que dessa forma fica melhor?” “Eu já liguei para todo mundo perguntando alguma coisa.” “Estou nervosa.”

Talvez tenham sido os momentos mais ansiosos de sua vida. Momentos gerados por ela, inspirada no amor daquele rapaz que se emocionou, como todos ali, como eu, que lhe tirei dos olhos três lágrimas contadas por ela, até neste momento esteve aflita: Devo rir ou chorar?

Pouco importa. Estava linda, como eu, talvez ninguém, imaginasse. Porque não era somente maquiagem sobre o seu rosto leve, meigo e suave. Nem seus cabelos cacheados na medida certa. Era uma ela que estava lá dentro e saia naquele momento, para vivê-lo em todo o seu eu.

O seu eu esperava lá na frente, ao lado do padre, de frente para ela como todos ali. Bela. Bem cinderela. Uma noiva princesa.

E na dança, ele pediu sua honra. Escolheu um toque da sétima arte. Inovador. Falava de uma história de amor intensa que superou a matéria.

Tomou sua mulher e dançou, lançou o amor em coreografia. Ela cedeu com toda sua timidez. Ali, falava só a felicidade. Dançou com ele. Dançou mais. E mais...

Dançou o amor que nutrirá todos os dias de suas vidas. Dançou o amor da sabedoria de compreensão em todas as horas, concordando ou não. Dançou o amor da paixão que incendiará seus corações quando cansados.

Dançou o amor da vida.

Agora uma só.

sábado, 12 de novembro de 2011

cecília de bolso na cama

ontem descansei ao fim
na companhia de Cecília
repousei em tuas dores flores marés
a noite pairou sobre mim
traindo o dia atribulado
flutuando dormi...



segunda-feira, 7 de novembro de 2011

dona miúda

"a delegada da ladeira"
da Misericórdia
de São Félix
de Cachoeira


enrolando charuto
na beira do paraguaçú
rio da minha terra
ruas da minha vó


de saudade e alegria
a menina chora

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

primeiro de novembro

vi


esquivei


toquei


saí


voltei


senti


tremi


estremeci


encontrei nos olhos


perdi nos braços


escorreguei na boca


acordei.

Velho Chico

Velho Chico cansado de guerra

Guerras banhou

Mães carregou nos braços

Levando teus filhos ao encontro do destino

Seco... Molhado...

Destino por desvendar


Velho Chico ainda menino

De ti contam bem

Palavras a boca não tem

E os olhos afogados num lago

Que não tem água doce, mas vem de ti



Vem de ti grande guerreiro

Vem de ti que vem de Minas

Minas de esperanças

De manos cansados como teu corpo



Chico carrega as mágoas daqueles que ficam

Banha a saudade dos que vão



Com todo respeito, seu Chico, estou muito emocionada com essa beleza e sabedoria no espelho detuas águas.

Grata por me abraçar em teu mar

Doce mar

domingo, 16 de outubro de 2011

Cimentança e saudade

Lua grande

Sol de longe

Saudade

Da mangueira podada...

Salvo seu tronco, banco



Quando menina era minha floresta sombria

Agora é terreiro aberto

Onde a lua chega exuberante e linda

E o sol faísca saudade da tarde

Meus pés no chão da terra

Minhas unhas sujas

Pretas



Plantas...

Agora envasadas

Terra prisioneira em planeta que leva seu nome



No quintal de Téu tem leira, mamoeiro e fogueira

Que a gente acende quando quer dançar



À noite lembrança do dia

Dos pássaros desabrigados no arrebol

Da pitangueira resistente

Das pitangas, sobreviventes da cimentança,

Brigando por um bico fino faminto

E os vasos, embaixo, clamando por mais uma semente

Que abrigada pela terra e banhada pela água

Brotará mais uma vida envasada e nutrida pelo planeta Doente



No quintal de Téu sobreviventes comungam a mesma dor

A mesma saudade

Diariamente

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

leviano

ainda trêmula mão
lhe conto, amor, meu dia
tenso
constante
intenso


...


entre pernas, sede
entre olhares, infinito


infinito via
quando nascera alegria
eu também já não sabia


...


água nos olhos, amor, nas intimidades
saudade nos ossos, arde


ainda firme desejo
molhado, amor, meu dia
leve
livre
leviano



terça-feira, 6 de setembro de 2011

rio amor e saudade

açafrão na sacola da feira

carioca cor de panela

é a cidade maravilhosa

o sabor da minha saudade

que chega no dentro de mim

em reticências mastigadas

com a força de um rio



quando o dia me traz o amor bem cedinho

ele custa a sair

pensa que é o sol

(o sol apenas o traz

na surpresa das manhãs)

pede licença à saudade

e fica comigo até o dia ir

até eu dormir


eu toco o dia

com ele nas súbitas lembranças

nas melodias que guardei de nós


no caminho das horas

vejo sua constância

mas só a tardinha me confirma

o conforto dos braços daquele um


não notara que seria um de nossos dias

mas não saberia ignorar

a lembrança do sorriso

o orgasmo da saudade

o fim de tarde

o sol que vai e o leva

aonde descansa o amor

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

O Pequeno Enzo

uma flor despetalou sem desabrochar

voou no vento do inverno

prevendo a primavera



seria uma flor menino

lindo

divino sopro levou



quarta-feira, 17 de agosto de 2011

trocando fraldas

você me pede

espere um pouco


não

quero ir

teu silêncio é dúvida para mim


você responde

tua certeza me chama

abraça e beija

juntos então


em noite fria

súbita neblina

premissa aventura


excitado você se vai

desiste das palavras fantasiadas

e vai



eu fico

dissolvendo valores em água e sal

eu grito


esteja calmo, efêmero amor

sem culpas não há desculpas

contigo a noite passou


e na lua seguinte

longe dos seus quase vinte

um homem honrou

o prazer que deveras

tua inquietude vil

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

bilhetes.

"confesso que para mim foi duro demais estar 'ali' e não estar com você, na vida eu fui obrigado a conviver com várias situações, e de todas as vezes eu soube lidar com cada uma delas mas desta vez eu fui derrotado por este vazio que você me deixou..."



eu te senti. ninguém me disse, mas eu senti você(...)
porque esse tempo não passa e dá logo ao meu amor tudo o que ele precisa para ter a certeza de que estar comigo é o que o mundo lhe reserva de mais feliz???
ele que me guardou por anos, me teve por dias e compartilha comigo a saudade de séculos.
não consigo amar ninguem, estar com ninguem por muito tempo.
tudo porque o vazio que tem em mim, está cheio de você.
eu te amo.

sábado, 6 de agosto de 2011

Tráfego


Rua via rota vã

Carros escorrendo na veia

Envenenada

Correndo como cães raivosos.



Noite ruído viola

Roedores arruinando vidas

Todo o reino devorado

Pelos rivais do universo

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Sei lá

E se eu te beijasse na boca

O que será que seria?

Seria...

Será?!

Sei lá

Deixe pra lá.



Te amo perto de como amo meu filho

Perto de como amo meu pai

Meu par

Parceiro

Pardo

Parto é falar desse assunto

Nesse sentido

Sem sentido

Desse jeito.



No final acho fácil

Dócil

E rio.



Sentindo um amor desse assim

Nem sei

Atenção

Nem dei

Só senti.



E engraçado é que outros dizem

Dizeres mal ditos

Comer

Dormir.



Deixem pra lá

É só amor

E será...

Será?!

...

Eu ri.

terça-feira, 5 de julho de 2011

a gestação da palavra

entre tudo e nada há uma trama

que nada diz do que quer dizer

é o delírio das palavras.

eis que do fim nasce o infinito


padecendo dor de cabeça, fui buscar uma bananeira

pulei o muro para descobrir verdades, vertentes, viagens

sobre o chão nunca pisado por meu peito voador


à goiabeira que caiu do cavalo

a vaga do hospital era vaga de emprego,

encontrei meu namorado que tinha um encontro marcado

no tronco: “Amor alado, todo sempre enamorado”


sobrevoei a grama dramática e lancei um paradoxo

fertilizei palavra

variei sem perder a validade

escolhi um, me escolheram vários


arrumei uma cadela,

não estava no cio

janinha gemeu no beco do ouro

sem saber que era dia

se é para parir, Janinha, diz que eu paro


no parto nada aparava meus meninos

era filho pra todo lado

pra todo nome, toda eira

beirando o existir e não ser

extasiado, eu: O pai.


e depois de toda obra pronta

me contaram que não era possível

passivo, me desculpei


então meu olhar mareado viu

pensamento oco virar eco

tonto, cuspi a cara do plural

que navegou em minha saliva


no vôo alto entendi que o quadro já era pintado

lhe comi de fora para dentro

me comeu por todos os lados


a natureza das palavras é fértil

desmatada, desmamada, demasiada fértil.


com o tempo a cria ativa soma idade

no parto se partem as regras

Sê ador de quem cria

frisson, fossa e saudade


Março 2011

quarta-feira, 22 de junho de 2011

beijo

exceto artístico e aleatório,

beijo é como braço de rio

sobe corrente

avexado

tomando oxigênio de cada vão que o leva

à boca

do mar

onde o limite do desejo

escorre prazer

e ao pôr do sol

pactos romperam

linha do horizonte


quinta-feira, 16 de junho de 2011

Daniel Geisel. O amor que sonhei.

Há duas noites sonhei com Daniel Geisel. Ele era o homem que amo. Morava em uma casa de construção e mobília simples, e nos fundos tinha uma onça que descansava na gaiola. Como os pássaros na varanda do meu pai, outras onças vinham visitar o quintal. Daniel morava com seu pai. Na fronteira do seu quintal a floresta virgem emparedava nossas vistas e garantia que depois dali o homem era submisso à natureza.


Daniel tinha uma loja de bicicletas e também gostava de pedalar. Trabalhador... O carinho confortava-me nas horas ao seu lado, e o nosso amor era regado por sorriso e abraço. Amei e fui amada por Daniel Geisel. Em uma noite vivi feliz por nossas empatias naquele dia.


Ele é branco, cabelos curtos com algumas ondas sempre úmidas no teto. Usa um brinco de prata pequeno, uma bolinha brilhando na orelha esquerda, combinando com o brilho constante do teu sorriso. Estive apaixonada por Daniel e pela vida ao seu lado. Pacata. Longe do barulho de máquinas, movida pelos ciclos do pedal. Saudável, sadia... Amada em ida e vinda.


Acordei leve, fácil, feliz.


Daniel agora já estava longe dos meus olhos. Cá dentro era uma saudade boa, gostosa. Daqueles amores que estão longe e que sabemos, logo tornará.


Desde então não me sai da cabeça o menino como eu. E diante do mistério que circunda minha tranquila amorosa, Daniel Geisel é porto seguro de águas limpas e rasas.


Hoje um pensamento solto firmou que para estar ao meu lado o homem tem de ser mais,ter mais, ver mais do que todo o rebanho pode ler. A verdadeira imagem por detrás do quadro. Numa vida diferente, distante, avessa aos inquietos, rejeitada pelos modernos.


Vou esperar Daniel Geisel e toda grandeza que nosso mundo pequeno reserva. Se não mais sonhar, se não mais voltar, basta-me o sono e a companhia de um amor intocável, insaciável ao mundo real.


Tenho saudades, Daniel, meu amor.

sábado, 11 de junho de 2011

idade de luz

por juliana brandão


energia tinha 15 anos
estava na flor da mocidade
vestido de xita florido, sandália rasteira de couro, cabelos ao vento
faziam do seu visual um doce firmamento
caminhava pelas ruas com passadas decididas
energia desafiava o tempo, o tempo das minhas bisavós, o tempo em que as moças preferiam reluzir pouco, pouco por timidez e por obrigação. mas energia estava disposta a mudar aquela multidão.
reluzia, reluzia, reluzia
brilhava mais que a luz do dia
os assobios a acompanhava
e ela com certeza adorava
ahh!!! energia. eta, mocinha danada.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

adormecido

lança de sol
penetra névoa
encabulada neblina
ouvi tua voz


depois de um tanto
depois de um tempo
já nem pensava tanto assim


te lembrei por vezes, noutra semana
de leve e tranquilo
como sempre nos vivi


o toque telefone
encurta a distância
a lança é o amor
que dança macio
no toque da tua voz
escorrendo em mim


agora à lua
sob frio calado
meu peito guardado
volta a dormir

quarta-feira, 25 de maio de 2011

tecelagem

"...Num indo e vindo infinito..."


"...O infinito é realmente um dos deuses mais lindos..."


Infinito meus amigos...


Tecidos no fio que me tece a eternidade.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

o casal.

lindo

esposa

mãos dadas

marido



graça

passeiam

serenos

a praça



carinhos

sorrindo

amando

velhinhos



mais

saudades

guerrilhas

paz

...

sexta-feira, 29 de abril de 2011

O que me possui.

Uma fala suprema, perene, serena...


A música pariu

Meu corpo abriga

Lampeira atiça

Batida qualquer


Não carece rima nem passo

Descontrolada cadência

Nota descompasso

Arrepio dos seios à nuca

Da nuca aos braços


No toque do couro a oca madeira

Bate na palma do pé

Abre as pernas da sem vergonha


Crespa na gira roda

Risca o chão

Rasga a saia

Sambadeira

Desfralda

Baiana

Sacode

Treme

Vibra

Abala

Agita

Chora

Dança.


domingo, 17 de abril de 2011

saudade

O vôo do vento vazio
Descolore a vida
Colore o rosto


As cores se vão a golpe de foice
O corte lhe trai os olhos
Num piscar do dia


Desolado
Vento não sabe que faz
Mais nada lhe dança
Nem balança


Era vermelho veludo paixão
Escorria em laranja
E amarelo-pólen
Pavão de pétalas elegantes


Subindo as escadas notei o desabrigar
De uns pássaros amigos meus
Fora uma indução migratória


Lembrei-me das folhas
Verde mais forte que bandeira
E brilhavam!
Com a luz do sol, então...
Só vendo


Algazarra de asa
E eu compartilhando o sopro divino
Refrescando a luz do dia com todas elas
Eram nossas asas
Eram memórias


E me enfeitava o sorriso
Prevendo o último lance de escadas do edifício
Empós invejar tuas vidas,
Em liberdade lá de fora,
Por detrás do comungol


Acabrunho-me choroso à perda
Talvez logo esqueça, talvez nunca mais.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Palavra.

Na liberdade dos olhos vendados, dança

Ao bule aquecido, ferve

Sob tez trêmula, pulsa

Dentro do silêncio, canta

Em ávida morte

Sobretudo

Descansa

quinta-feira, 17 de março de 2011

Terça

Passa arrastada

Terço rezado

Terço passado

Começo ao fim

Longos dias, árduos

Trabalho

Descanso em teus braços sábado

Poeta, risco tua falta ao papel

Tez trêmula em minha carne branca

Saudade branda

Vagarosa lida

Semana santa

Um terço se fora: Terça

Terço rezado forra-me a cama

Lençol branco amor sangra

Lembrança

Rog ao fim que logo venha

Tenaz, fugas, profano

Torço o terço em agonia

Semana seduzida ao fim

E o meu deleite: Tua companhia

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

A máscara perecível do poder.

Aos berros. Ao mundo. Ao Eu.



O poder penetra a visão

Dilata da pupila um falso mais

Até mais ver, poder

Vê mais daquilo que quer

Engrandece... Encarece...


“Caro, profundidade não é amplitude.”

Mergulhado no ego o super idiota

Tritura palavras e cospe arrogância

Tolo.

Palavras voam em vão

E voam

E vão...


Tudo ao homem de poder

Homem ao tudo poder

Poder ao homem

Caro e cheio

De tudo

Tuas riquezas vazias


A máscara do poder é perecível

Perece e cai

Aos berros. Ao mundo. Ao Eu.


sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Ao nosso amigo Ton.


(auxílio luxuoso de Rodrigo Camarão Santana - "Cama")


Ontem falamos de você...

Da sua vida e cachos

Da pacaia cabisbaixa e nada triste

Da melancolia inocente amamentada no seio da adrenalina


Do teu fugir


Dos homens... De amigos...

Das folhas e fatos que te lanceiam

Egoísmo são e sóbrio

Soldado de guerrilha só


“Para onde vai o mundo quando olho longe?!?!

Onde fica o escuro quando o chão é quente?!?!

O pescador em minhas costas, tranqüilo, espera a bruta tempestade...”


O Tom da brutalidade é o silêncio do vazio

Que vive quando você não está

Que vivo quando estamos aqui

Em qualquer lugar que se habite o amor


Falamos de você...


Sopramos ao vento, ao mar aberto

Para que a liberdade leve a teu encontro

Nossos ancorados corações

E você assobie no canto solto de qualquer porto

De qualquer porto

De qualquer porto

Que nos ama também.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Pólen e eu: "O segredo do skate é a prática!"

Desde a “separação matrimonial” em 24 de abril de 2009... Aliás, desde antes dela, bem antes... Meu objetivo era dar toda atenção a Pólen para preencher as lacunas que ficariam vagas na ausência do seu pai.

O matriculei no vespertino para compartilharmos durante as manhãs suas tarefas de escola, minhas rotinas de trabalho e outras atividades mais formais. À noite escolhi o menor número de disciplinas na Faculdade para que ele não crescesse com uma identidade vaga ou com princípios flutuantes pela ausência de referências constantes.


2010 passou rápido como um trem bala e intenso como um furacão, que até então me desestabiliza vez em quando. Cacos naturais de mudanças à nova vida.


No segundo semestre ainda em 2010, depois de quase dez anos me vi obrigada a assinalar duas das minhas três principais responsabilidades: a mãe, a profissional, a aspirante em arte. Ambas me dão prazer inexplicáveis, mas as concretudes sociais, mais uma vez me afastaram dos estudos. Sem quaisquer remorsos pelo que ia, e sedenta de dar cabo às então prioridades, assim o fiz.


Neste primeiro semestre de 2011, mais uma vez ao matricular, escolhi apenas três dias de aula na semana para evitar congestionamento de afazeres e outro possível abandono da academia, ainda pregada na metodologia educacional da presença constante.


Porém ontem à noite dei conta de uma mudança que mexeu um pouco comigo. Sai de um evento mais cedo anunciando para o colega: Vou para casa ver minha criança!


(As aulas dele começaram a dois dias e criamos sua rotina de tarefas matinais e noturnas para que possa lidar com a diversão, aprendizado e obrigações harmoniosamente, mesmo quando eu não esteja em casa.)


Abri a porta da sala, guardei minhas coisas no quarto e fui ao seu abraço sempre afetuoso. Me retribuiu o carinho e lançou a seguinte frase:

“Estou terminando de assistir esse desenho, depois vou descer porque o segredo do skate é a prática!”


Senti com força o amadurecimento instantâneo de meu, já não tão, pequeno.


Está crescendo e se tornando cada vez mais independente.


Talvez eu deva fazer o mesmo...

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

ereção feminina

o sangue que lateja à ponta do dedo toca o rastro do orgasmo...
tum tum
tum tum
você e tu
orgasmo cru

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Pagodão.

Sexta-feira a tardinha, após visitar alguns clientes, indo para casa de meus pais, onde meu filho aguardava para mais um fim de semana em suas já saudosas férias de verão.

Noto um Gol prata, terceira geração, quatro portas, vidros fumês e um musculoso fazendo estripulias na pista para chamar atenção. Reduz, acelera, espera no semáforo... Escutei a percussão querendo invadir as bocas de som tímidas que Bebel acomoda.

Tá bom. Vamos ver o que escuta essa figura eufórica. Baixei minha música e surpreendi com a unanimidade popular soteropolitana: Pagode! Ele escuta pagode! Que lindo! Minhas gargalhadas em comboio custaram a cessar. Nada contra a manifestação cultural da massa, que por sinal a ela compete. Mas a primeira coisa que veio à cabeça foi a minha imagem de salto alto, short jeans meia polpa, top e camiseta customizada do Salvador Fest, dançando “até o chão, mamãe!”. O motivo da graça foi esse; pronto!

Volto ao meu som, mas não ignoro a presença do insaciável que continua a acelerar e desacelerar, investindo literalmente alto. Volta e meia vou de carona em seu joguinho de sedução, adoro me divertir com esses coito-desesperados.

Continua se exibindo com toda pose de galã, grande homem sobre quatro rodas, janelas escancaradas e uma música de endoidecer periguetes, exibindo todo o seu braço musculoso... Ops. Ele deixou escapar a sua mão para fora. Danadinho! Ali tem uma aliança. O rato, percebendo seu furo, foge depressa de volta ao esgoto após tentativa frustrada de roubar o queijo. Jogou a mão de volta para o interior seu paqueramóvel e tentou disfarçar de todo jeito.

Como eu me divirto com esses homens!

Ainda um pouco atrás, fui encostando devagar. Carros paralelos na mesma velocidade, olhei nos olhos do troncudo, fiz um biquinho de coitado e acelerei cantando em despedida.

De cá minhas gargalhadas. Lá um suposto lamento de coito interrompido.

“Foge, foge, Mulher Maravilha!”

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Onanismo


Silêncio arde em inspiração

Universo inalcançável

Perspectivas porções desejáveis invejáveis

Vento denso atravessa as orelhas

Passa nada além que fica

Majestoso compartilha; ameniza; acelera

Penetra o ventre

Vento ventríloquo

Sopro sapeca fingindo ser sopro só

Eu te sei safado

Embriaga e seduz

Esparrama e brota

Nasce prazer

Mais leve cochilo...

Antes cochicho...

E ainda sussurro...

Que Delícia!