sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Lembranças de uma Menina da Periferia.

Hoje acordei um pouco mais cedo para deixar o carro na revisão e tomar um ônibus ao trabalho no último dia do ano atípico e oscilante. Mudanças de desabrochar.

De Paripe ao Uruguai fui pequena novamente e acreditei ter marcado com o destino aquela viagem.

Voltei ao trem que tomava até Periperi a aluna do Guadalupe. O trem que passava pelo túnel em Coutos e conservava a baía de Todos os Santos em suas janelas.

Ah, o trem... Que operava meu pai... O trem da ponte, da barca de Plataforma à Ribeira, das palafitas do Lobato, das pedras atiradas e acertadas pelos meninos da linha do trem. O trem que me trouxera de longe, me levara também.

No ônibus as vidas passam pela minha, ao lado do cobrador. Periferia é a multiplicidade da raça, dos extremos na revolta de passar fome e do isopor no carnaval, dançando com a latinha vazia no alto, como se aquela festa fosse somente sua. E os meninos atrás...

Viajar de coletivo pela periferia é ser conduzida pela minha cultura, pela liberdade do meu povo e por um orgulho sustentador. É também saudade... E impotência pelas dores da minha gente.

Quem me dera um transporte público mais saudável, vias mais saudáveis, motoristas mais saudáveis... Eu seria mais da minha cidade. De onde nasceram minhas descobertas.

Cresci e aprendi a dirigir, o meu carro (Bebel), não a minha vida. Essa vive escorrendo pelas vias da lembrança, da reflexão, do resgate... E agora no ônibus... No carro... No trem... - E mesmo que voe para bem longe, cante novas canções, viva novas paisagens e sinta novos ares – brinda o último dia de trabalho a Brasileira. A Cachoeira. A Maré...

De Tubarão,

Da Baía,

E do Trem.

sábado, 17 de dezembro de 2011

no carnaval

frevo ou samba

para ouvir e dançar

recife rio bahia

todo lugar

todo samba ferve

todo frevo samba.

sábado, 10 de dezembro de 2011

itacimirim

na areia deixei uma linha de cabelo
para que os fios do oceano
teçam a cada manhã
minha vida nesse mar...
nesse lugar.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

a graxa

na roda flor
abre para vida

se mostra disposta
passada a casca
a dor
a ferida.

para vida desabrocha
flor no arrebol

não é uma delicada rosa
nem tulipa requintada.

sob luz de gira sol
no tapete marrom e verde
ao canto do vento lento...

dança cheia de graça
a graxa!

aquarius

era...
era deus
era terra
era

a nebulosa
a vela
era

um quarto
do todo
talvez...

era amarela a chuva
era aquarela o dia
era feliz o final

eram pontos perdidos
portos cheios
partes...
era eu

até chegar o fogo
o afago
a fonte
a força que energiza os montes

e traz...
pra cá
pra nada
lugar nenhum

despretensiosa unicidade
do universo
da cidade

sua idade, era, a dança do mundo
era um
era tudo.