quarta-feira, 3 de maio de 2017

o feminismo em mim - minhas escolhas faço eu

O feminismo se revela em mim quando rompo relações com "homens modelo", daqueles que a família diz: um desse você não vai encontrar mais. 

Às custas de desafios imensos e do frio de outonos, porque não há preço a liberdade sagrada de cada dia das estações.


O feminismo se revela em mim quando reconheço que posso amar um homem, escolher viver com ele re-encontros astrais... e seguir junto, desde que ninguém precise desviar de sua rota, fardo que, na maioria das vezes, quem carrega é a mulher.

Sinto o feminismo pulsando em mim quando acredito e sei que posso, e escolho por onde ir.

Percebo o feminismo em minha vida, quando vou entendendo os processos sociais em mim, identificando e curando as feridas, e a partir daí, escolhendo tudo e cada coisa. Ainda que seja chorar... A escolha é minha - é consciente.

O feminismo me diz que chegou quando eu mesma faço as minhas escolhas.


#ofeminismoemmim

o feminismo em mim - quase estupro na infância

o feminismo se revela em mim quando sinto necessidade em compartilhar experiências como o quase estupro da infância, a tentativa do padrinho gente boa, torcedor do flamengo, que dormia no mesmo quarto da afilhada, durante a festa de são joão em cachoeira. naquela casa em são félix, onde entravam faíscas pelas janelas, das espadas trocadas entre o coreto e o paço municipal nas noites dos festejos, e bebia-se muito licor todas as tardes na varanda de onde podia-se apreciar um belo jardim, outrora bem cuidado por dona valdelice.
parecia sonho, eu fui me dando conta meio sonolenta. não lembro se a luz estava acesa ou apagada, mas sei que a porta estava meio aberta. talvez tivesse luz de outro vão, entrando pela fresta. não sei. sentia um homem se esfregando em cima de mim, acordei bem grogue.
eu tinha onze anos e quando cheguei do tradicional são joão feira do porto, em cachoeira, ele não estava ali ainda, mas já estava combinado que podíamos dormir naquele quarto, já que as irmãs mais velhas estavam com seus respectivos namorados nos outros quartos.
dormi com o mesmo short marrom de gurgurão e o colete de malha, lindo e colorido, presente de uma prima querida.

quando me dei conta de que aqui, neste mundo - sentia ter voltado do mundo dos sonhos para o corpo - tinha de fato alguém se esfregando em cima de mim - podia perceber que ele estava vestido - o primeiro pensamento racional que tive foi: onde está meu padrinho? tem um homem em cima de mim. me mexi, como quem vai acordar. ele desceu. Eu de olhos fechados e com medo daquele bandido - não tive consciência da tentativa de estupro no momento. imaginava que era um bandido que tinha entrado na casa enquanto dormíamos e que por algum motivo estava ali, se aproveitando de mim.
ele voltou para cima de mim por mais três ou quatro vezes, pois depois que eu me mexia, dando a entender que acordaria, ficava um tempo até virar a cabeça para cada canto do quarto, fingindo dormir, a procura do meu padrinho, que me salvaria daquele monstro.
depois de várias sarradas - e podemos rir disso agora, se a gente quiser - percebi que não encontraria meu padrinho para me salvar, pois era ele ali, violando a minha infância, o meu tempo e escolhas, violando meu corpo. 

e seu eu não me mexesse? se tivesse mais medo do que tive? se ficasse quieta? ele tiraria sua roupa, penetraria o corpo de uma menina de onze anos. decerto.

não lembro bem muito do que aconteceu... às vezes tenho uns flashes, mas sinto que fui "programada" para esquecer.
 quando percebi que era ele, me posicionei com mais firmeza e distanciei; afastei bastante... e acho que emiti algum som meio forte... ele percebeu, e desistiu.
acordei cedo e contei para minhas irmãs.

tenho convivido, por questões familiares, com esta figura que tentou me estuprar aos onze e pediu perdão aos meus quase trinta, quando eu lhe respondi: não vou te perdoar, porque não te julguei e nem condenei.
nestes tempos, todas as vezes que ele e a sua maldita cachaça se aproximam, sinto um desandar nas tripas...
eu suporto a sua presença por questões de ordem ancestral.
mas ao contrário do que pode se pensar, ele não acabou comigo. homem não tem tamanho e nem força para me destruir porque homem vem de mim.
em minha humilde consciência, o olho sem paciência, dou um punhado de palavras e vou respirando, estudando as minhas possibilidades de emergir, flutuar, borboletar... voar cada vez mais alto.

eu sinto o feminismo em mim quando ele toca em você.
#ofeminismoemmim