quarta-feira, 16 de abril de 2014

a greve no subúrbio


Aqui na maré o mundo parou para o mundo não parar.

O mercadinho à meia porta. Na mercearia os assíduos falam do menino que foi assassinado perto da linha do trem. “Até hoje eu só vi duas pessoas morrerem na mesma data que nasceu”, comentou o homem.

Minha mãe acamada não cansa de apontar o lindo dia que faz lá fora.

Na rua um grupo de meninas também fala do principal assunto do dia até então. “Eu estou mais sentida que você, mulé. Se ele tivesse me escutado um tatinho assim...” diz uma delas. A outra complementa dizendo “e eu, que já chorei pra porra hoje?!”

A mãe que foi mariscar acaba de ligar pra casa ordenando que “não saia ninguém! Passou uns caras armados por aqui agora!”

Bom dia fulano, bom dia irmão.

A rua está calada... Até o rádio do vizinho se intimidou. A voz a berrar pela favela parece um cantarolar. “Sobe o passeio que o canário tá na pista.”

A maré está seca... Mantém-se fértil e receptiva ao cultivador. Este sela uma relação de harmonia quando respeita e cuida da terra na curva mais bela, onde o Atlântico guarda sua água calma. O Sol, pintando, colorindo e prateando, escreve mais um dia na história dessa Baía.

A curva está silenciosa... Com a greve da Polícia Militar. São todos juntos e alegres como sempre, mas temor se dá de dor em dor. Aqui Deus faz a parte Dele todos os dias, mas o Estado, deus e escravo do desenvolvimento forjado pelo império – ou inferno – econômico contemporâneo, ignora o potencial humano, condenando nossa gente à escassez de oportunidades e recursos.

O olhar está distante... O comerciante vê lamentoso o horizonte. Seus clientes matinais não vieram para a resenha hoje. Naquela praça, logo ali estariam as mesas cheinhas de adultos a beber, se divertir e talvez exagerar.

Lá fora é caos agora... Trago fumaça que se transforma em nuvem de paz, se expande e ocupa cada vão do corpo meu.


Sem sair, passeio por Tubarão inteiro e pelo mundo que parou para o mundo não parar.


quarta-feira, 9 de abril de 2014

o chá

o flagrante está no olhar
o flagrante somos nós

só estamos mirando o mar
e todo mirante é militar

chegue, estamos aqui
nos pisos portugueses

eu topei num pedaço solto da calçada
eu topei num cigarro e peguei

olha o sorveeeete!!

o passeio era um jardim botânico,
o quintal do imperador

em paz miramos o mar
e o sol de todos os santos

já pensou, se os homem chega...?

mostre a identidade
onde guardou  aquele cigarro

"vocês gostam é disso...
essas coisas de vagabundo!"

eu vou é indo...
preciso dançar

agradeço a rosa, a inspiração...
agradeço o chá