sábado, 15 de junho de 2013

desabafo de terra, samba e carnaval.

Aqui em nós nasceu o samba. Todo mundo sabe de onde veio, e isso já não importa mais. A tradição leva o nosso nome e por toda parte estamos nós, baianos, neste samba viajado, pulverizado e  ritmado no batuque de outros estados.

Lá no interior, Cachoeira exibe seu folclore. Mas não há de ser somente exposição, fonte de pesquisa ou inspiração de quem se achega. Há de ser vida!

A porta metropolitana da minha Bahia está machucada, confusa de manifestos musicais e quem vai até o chão nem sabe de onde vem.

A curta memória da maioria esqueceu ou nem conheceu; e a saudade do meu espírito negro se manifesta na carne que é parda. É de toda cor o samba meu.

Meu coração é samba. Eu sou de Cachoeira, sou baiana. 

Vivo o Rio de Janeiro e os  cordões da Praça Onze no antigo carnaval que nem vi. 

De onde migrei, os cordões são ricos mas já não separam mais as cores, os valores sociais. Já não separam mais a dor do povo meu, e os donos da casa são comprimidos em um corredor da calçada. 

Ambulantes e foliões, pipocas e pipoqueiros se animam para esquecer aquela dor, ouvindo lá do alto do trio elétrico: Salve, Salvador! Que bate, que quebra, e se diz que é por amor. Ainda tento crer... Eu gosto do carnaval no Pelô

E quem nos salva deste apartheid de nós mesmos? Onde está a essência da nossa alegria? Esse não é o carnaval que eu queria. Um carnaval em que a ira dos excluídos se manifesta nos privilegiados. E a culpa é de quem? Da memória perdida de quem somos. Ou talvez nem sejamos mais. Tanto tempo se passou...

Devolvam a minha Bahia, por favor!!!

Eu vim buscar pedras na cidade tão negra quanto aquela que me criou. Aqui eu leio a minha cidade, a que me pariu. Aqui estou a mamar nos seios mais fartos da minha terra, a ancestral. Para me descobrir, eu saí do meu lugar.

Aqui vou desembrulhando, desembaralhando, abrindo os presentes e me redescobrindo naquelas canções de percussão que me tremem o ventre, que me tremem o chão.

Eu sou escrava da minha Terra e não temo, para a ela retornar, toda vida caminhar.



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