quinta-feira, 22 de março de 2012

passa tempo

em um ano ela dança dois movimentos
consigo e o seu senhor
todo dia é um novo círculo de Terra
até que a manhã rasgue a escuridão
de onde vem inteira, sorrindo ou nem vindo
em tantas noites a mesma lua
cochichando com o mar
o mar bebendo a praia aos goles
no soluço de tuas ondas,
a cada instante uma nova onda
brincando com o vento
o vento soprando de dentro pra fora
de fora pra dentro
toda virada é um novo vento
soprando o mesmo ar.

São quatro estações, se não me engano
dias de chuva
noites com sol
folhas secas
manga madura.

Tem elemento que o tempo matura.
Tem elemento que matura com o tempo.

sexta-feira, 16 de março de 2012

o pedido


Cai!
Vai...! Cai, estrelinha, cai!
Desejo na ponta da língua
eu na ponta dos pés
mindinho tocando na boca sorrindo
e os olhos pedindo:
Dá ele pra mim!




A Corredora e a Vendedora.


Me recordo de quando comecei a correr ou quando passo um tempo sem me exercitar, o quanto é algo estranho o começo, ou recomeço.

Começo caminhando para aquecer, e nos primeiros minutos de corrida o peso do meu corpo é como se fosse uma carga para minhas pernas. Logo elas ficam tensas e se eu não atentar para a postura, distribuição de pesos nas transições das passadas, movimentação dos membros e respiração, é inviável continuar.
Não é nada fácil, não é simples e nem comum. Mas como eu sou completamente avessa à cultura da nossa sociedade de conquistas fáceis, continuo alerta e vou buscar minhas superações, certa do esporte ser apenas mais uma vertente do meu universo de desafios que se comunicam entre si e me proporcionam crescimentos imensuráveis.

No começo, ou recomeço ocorrem certos desconfortos mesmo depois do treino. Dores razoáveis e suportáveis na musculatura, que inclusive me sugerem descansar antes do próximo encontro com a atividade física. Escuto meu corpo e atendo ao seu pedido, afinal, estamos juntos nessa. O desconforto pós-treino ao qual me refiro, descobri nesses anos de prática, que são meus músculos respondendo ao exercício, se modelando, se dividindo, se delineando, se é que me entendem... Após a descoberta tratei de chamar esse incômodo de conquista, e comemoro sempre que sinto as transformações, os resultados de meus esforços.

Hoje, 5 anos após mudar completamente minha cultura alimentar, física e postural gradativa, progressiva e construtivamente, faço uma análise do esporte como o maior exemplo de evolução que um ser pode conferir à sua matéria, e como ele pode ser referência para todas as evoluções necessárias à existência do homem.

Essa reflexão foi despretensiosamente sugerida pela análise no comportamento de um vendedor, as metas aplicadas, metas pessoais e caminho para conquistar os seus objetivos.

Em questão superficial  o vendedor precisa vender. Mas isso não se resume a oferecer o produto, informar o preço e fechar a negociação. Não! Para começar o vendedor não tem só um cliente, o que exige de cara uma postura de observação e flexibilidade no tratamento a cada um, conforme o seu perfil. 

E o que os clientes precisam? A sua atenção agora está direcionada às necessidades do cliente para que o tiro seja certeiro, como na corrida, o treino seja eficaz. Ao mesmo tempo o vendedor tem metas específicas por valores, por produtos, por número de clientes atendidos, por novos cadastros, etc. E, neste caso, para não perder o fôlego, atingir os objetivos sem desperdícios de energia e minimizar as possibilidades de perdas ou danos à negociação, ele terá de se comportar conforme na corrida. Estabelecendo o seu destino/meta, estudando e definido o caminho a percorrer, atento a todas as parciais que aquele desafio He fornece. Como na corrida não será fácil, simples ou comum. Todavia não será, NUNCA, impossível.

A prova disso é o prazer que os bons vendedores e bons corredores (amadores ou profissionais) exprimem em suas conquistas. O que chamamos comumente de comemoração.

Para correr e para vender é preciso ter vontade, dar o primeiro passo, utilizar os recursos que dispõe, perceber todas as dificuldades que lhe cruzam o caminho sem apavorar. Atenção e adaptação para continuar seguindo. Conheça suas limitações e as vença. Não ignore nenhum momento ou situação. Mas não perca de vista aonde quer chegar.

Às vezes a gente sua, às vezes dói, às vezes cansa...

A única garantia em qualquer uma das situações é que para vencer, correr, vender, viver... Enfim, desfrutar desse prazer que as conquistas proporcionam é algo que depende primeiro, única e exclusivamente de você.

Então corra!!!

quinta-feira, 15 de março de 2012

luz minha

(uma referência ao poema Paisagem pelo telefone, João Cabral de Melo Neto)


minha luz é minha
luz do sol também
quando nua
brilha mais ainda

sob a luz do meio dia
sem sobra e dúvida
envolvida

como a vela tocada pelo sol
branca se revela,
tocada por teus olhos
toda luz é minha

segunda-feira, 12 de março de 2012

solo fértil


quanto mais fincadas raízes, mais nutrida de terra
mais robusto tronco
folhas mais verde
frutos mais maduros

a árvore reinventa
se multiplica, se supera

podada se recolhe
se amiúda

sozinha se prepara
de novo
verde rasga marrom
 de novo

seu solo é fértil

raízes fincadas, natureza nutrida de terra
robusto tronco
folhas tão verde
frutos cada vez mais maduros

domingo, 11 de março de 2012

em Tubarão

em Tubarão posso ver toda Salvador
meu canto da Baía tem um T que todos os santos queriam ter
muita cor e dor

pequenos brincam com vasilhames de refrigerante
mães cuidadosas ofertam ovinhos de codorna
domingo tem família e diversão
em Tubarão

guris empinam arraias
maiores confiscam as cortadas no ar
crianças em cima do barco
e o Pescador aos berros:
"Senha disgraça... Desça daí!"

em Tubarão
equilíbrio de dor e cor
sofrimento e beleza
lixo e paraíso


entre uma raquete e outra, a bola
entre uma onda e outra, o sol
em Tubarão
experimento o equilíbrio do mundo
jogando frescobol