Sexta-feira a tardinha, após visitar alguns clientes, indo para casa de meus pais, onde meu filho aguardava para mais um fim de semana em suas já saudosas férias de verão.
Noto um Gol prata, terceira geração, quatro portas, vidros fumês e um musculoso fazendo estripulias na pista para chamar atenção. Reduz, acelera, espera no semáforo... Escutei a percussão querendo invadir as bocas de som tímidas que Bebel acomoda.
Tá bom. Vamos ver o que escuta essa figura eufórica. Baixei minha música e surpreendi com a unanimidade popular soteropolitana: Pagode! Ele escuta pagode! Que lindo! Minhas gargalhadas em comboio custaram a cessar. Nada contra a manifestação cultural da massa, que por sinal a ela compete. Mas a primeira coisa que veio à cabeça foi a minha imagem de salto alto, short jeans meia polpa, top e camiseta customizada do Salvador Fest, dançando “até o chão, mamãe!”. O motivo da graça foi esse; pronto!
Volto ao meu som, mas não ignoro a presença do insaciável que continua a acelerar e desacelerar, investindo literalmente alto. Volta e meia vou de carona em seu joguinho de sedução, adoro me divertir com esses coito-desesperados.
Continua se exibindo com toda pose de galã, grande homem sobre quatro rodas, janelas escancaradas e uma música de endoidecer periguetes, exibindo todo o seu braço musculoso... Ops. Ele deixou escapar a sua mão para fora. Danadinho! Ali tem uma aliança. O rato, percebendo seu furo, foge depressa de volta ao esgoto após tentativa frustrada de roubar o queijo. Jogou a mão de volta para o interior seu paqueramóvel e tentou disfarçar de todo jeito.
Como eu me divirto com esses homens!
Ainda um pouco atrás, fui encostando devagar. Carros paralelos na mesma velocidade, olhei nos olhos do troncudo, fiz um biquinho de coitado e acelerei cantando em despedida.
De cá minhas gargalhadas. Lá um suposto lamento de coito interrompido.
“Foge, foge, Mulher Maravilha!”