terça-feira, 18 de junho de 2013

sem fronteiras

sinto o mundo sem fronteiras
sem traves ele me invade e eu
o recebo

coração inflado
nos poros o sopro 
da emoção

viver sem restrição
e consciência de ser
divino

fundamental para o fluxo 
universal equilíbrio de pesos 
e medidas

eu choro e não sei
ser triste na fantasia da vida 
real

as lágrimas revigoram a certeza
é a verdade que disse o meu pai
manué



segunda-feira, 17 de junho de 2013

pobre rosa


ela teme o abraço de minhas mãos
certa de que teus espinhos poderão me machucar

eu gosto dela
e ela de mim

tuas pétalas me acarinham a face
tua cor me alegra os dias

o amor nos toca e desabrochamos em prazer;
belo e sublime é o instante de ser feliz

pobre rosa... ignora tua beleza
lamenta o futuro ferido

pobre rosa... não quer viver o amor
pelo temor do por vir

pobre rosa... chora no inverno
a pré-matura morte da primavera

sábado, 15 de junho de 2013

desabafo de terra, samba e carnaval.

Aqui em nós nasceu o samba. Todo mundo sabe de onde veio, e isso já não importa mais. A tradição leva o nosso nome e por toda parte estamos nós, baianos, neste samba viajado, pulverizado e  ritmado no batuque de outros estados.

Lá no interior, Cachoeira exibe seu folclore. Mas não há de ser somente exposição, fonte de pesquisa ou inspiração de quem se achega. Há de ser vida!

A porta metropolitana da minha Bahia está machucada, confusa de manifestos musicais e quem vai até o chão nem sabe de onde vem.

A curta memória da maioria esqueceu ou nem conheceu; e a saudade do meu espírito negro se manifesta na carne que é parda. É de toda cor o samba meu.

Meu coração é samba. Eu sou de Cachoeira, sou baiana. 

Vivo o Rio de Janeiro e os  cordões da Praça Onze no antigo carnaval que nem vi. 

De onde migrei, os cordões são ricos mas já não separam mais as cores, os valores sociais. Já não separam mais a dor do povo meu, e os donos da casa são comprimidos em um corredor da calçada. 

Ambulantes e foliões, pipocas e pipoqueiros se animam para esquecer aquela dor, ouvindo lá do alto do trio elétrico: Salve, Salvador! Que bate, que quebra, e se diz que é por amor. Ainda tento crer... Eu gosto do carnaval no Pelô

E quem nos salva deste apartheid de nós mesmos? Onde está a essência da nossa alegria? Esse não é o carnaval que eu queria. Um carnaval em que a ira dos excluídos se manifesta nos privilegiados. E a culpa é de quem? Da memória perdida de quem somos. Ou talvez nem sejamos mais. Tanto tempo se passou...

Devolvam a minha Bahia, por favor!!!

Eu vim buscar pedras na cidade tão negra quanto aquela que me criou. Aqui eu leio a minha cidade, a que me pariu. Aqui estou a mamar nos seios mais fartos da minha terra, a ancestral. Para me descobrir, eu saí do meu lugar.

Aqui vou desembrulhando, desembaralhando, abrindo os presentes e me redescobrindo naquelas canções de percussão que me tremem o ventre, que me tremem o chão.

Eu sou escrava da minha Terra e não temo, para a ela retornar, toda vida caminhar.



quarta-feira, 12 de junho de 2013

o amor que eu quero

como eu quero
alguém que me ame e não se importe com o meu amor
que me ligue e não se preocupe se vou atender

que eu ligue e atenda se puder, ou retorne quando puder
que saia com os amigos para viver
que me deseje boa viagem, mesmo sabendo que vou demorar

alguém que faça comigo um amor conduzido 
pela energia do nosso olhar
pelo enroscar de nossas línguas
e pulsar de nossos corações

desejo alguém 
que esqueça o orgasmo
para sermos surpreendidos pelo tsunami avassalador do prazer
para ficar sem palavras depois do divino momento de amor

como quero um namorado, um amante, um amigo, um companheiro meu
que não se importe com nenhum desses títulos
e seja apenas meu

pra gente brincar, sorrir e viver
trocar histórias e juntos crescer
quero te ver crescer no caminhar

desejo a sedução de um olhar
a travessura de um sorriso
o prazer da dança 
movimentos únicos e progressivos

com ele trocar suor
nossas tintas
abrir meus poros 
sua energia em minha pele 

andar de mãos dadas
olhar à frente sem prever o futuro
e esquecer o que ficou nos passos dados

eu quero um laço fácil  de atar e desatar
um amor eterno hoje
leve e suave

que ele me veja profundo 
através do brilho deste olhar
esqueça a ilusão de minhas roupas, do meu corpo e cabelo
e se deixe conquistar pela verdade que sou

quero alguém que acredite na passagem
nem começo e nem fim
num encontro reencontro;
que nossos caminhos se cruzam
e ainda assim somos dois

seremos a canção improvisada no carinho do momento
a trilha sonora de nós
em seu livro quero ser uma folha, um capítulo ou a última frase

que seja hoje, que seja agora
o amor de verdade, mesmo quando acaba
fica guardado no presente que o consagrou
em nossos corpos, em nossa alma...
vive no infinito o verdadeiro amor.















terça-feira, 4 de junho de 2013

crônicas da bahia


Duas mulheres falam ao telefone por uma hora, nove minutos e quarenta e um segundos. Pode!? Nem mãe e filha e nem namoradas. Uma profana e a outra sagrada. Pelo menos ela pensa que é. Ou finge. Vai saber...

Quando encontra a outra endiabrada, parece até que tá possuída.

Novidade por novidade, as gargalhadas alcançam a extensão geográfica que as separam.
Se chamam marida. Mas esposo que é bom... Tá dando é trabalho de achar.
Eu mesmo que nunca vi isso.

Uma foi se meter no meio do Brasil, onde pensa-se até que é Paris.
Foram perguntar se ela é o pão de queijo ou a farinha. A nigrinha respondeu súbita e saliente: "Eu sou a pimenta!" Ai ai, viu?

Os pensamentos corriam soltos pela mente poluída da relaxada. "Se eu tenho uma perna na Bahia e outra em Minas, onde estará a pimenta desse povo?" Deus que me livre!

Crise nos dois aparelhos. Somente nos assuntos cautelosos como mudança, ou leves como meditação é que os abdômens repousavam.

A sirigaita não foi contar pra outra que em Minas tem picolé de mini-saia?!?!? Agora veja... Um lugar frio da porra vai perder tempo pra fazer picolé de mini-saia??  Oxe...

"Uai" foi quando a pervertida inventou uma história de que lá por aquelas bandas a Emília se encontrava escondida com o Saci Pererê, e que o Visconde de Sabugosa era quem arrancava os cabelos, de raiva dessa pouca vergonha.

Doida pra ir no Rio de Janeiro ver a falsa beata dos rituais de fumaça que vive colocando o Todo Poderoso em tudo o que é conversa.

É assim... É só triscar no fio, ou melhor, acionar o vibrador que ela atende, pulsante e latente, a outra do outro lado. Periguete enrustida que fica esperando o carnaval chegar pra largar o doce atrás do Parangolé e dizer que só faz isso quando tá com a outra.


Por fim elas falam de si. Querem se ver e viver... Soltar seus ares... Flutuares... Se não conseguirem alcançar o céu, dá pra chegar até o baile  funk  no morro.  Puxa vida, hein?! Uou!



domingo, 2 de junho de 2013

eu não sei sambar


na roda de samba Ela vem
e ele com ela
por ele, Ela me vem

o sal da terra penetra
é pelo tambor
o encontro do corpo no encanto do olhar
um ritual

Ela me chama e eu volto pra mim
já faz tempo que Ela me chama assim
agora vem de volta

no sol que suei, suaram os meus
é ancestral

quem vem de lá, vem me ver
e vem comigo sambar

eu risquei no mapa meu lápis preto: a minha cor
cheguei onde estou

na terra que toca, batuca, estremece meu corpo 
assim eu volto
pois sou de lá

missão que ainda não sei
a mão do meu povo canta meus caboclos
e eu não sei sambar

apanho do samba, de todos os santos
meus santos

as mãos espancam o instrumento
meu corpo em movimento
e eu não sei sambar

catando os tantos de lá
desde a luz do sol do recôncavo

suor trocado para recebê-La
meus poros se abrem por Ela

dentro do corpo um coração sente
o que a cabeça ainda não compreende
ainda por revelar

e eu sei
que ainda não sei 
sambar

sábado, 1 de junho de 2013

compreensão

o que é meu, é meu
o que não é, não é
contestar a vontade de Deus
é egoísmo e má fé