segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Concha Acústica. Uma celebração de Axé, Tambores e Carnaval.

foto: facebook.com/BaianaSystem



Pulsa no ar da Bahia uma diferente energia...

Atabaques... Rum-pi-lezz... Wi-re-less...

É um sistema baiano universalizado e contemporâneo. É uma guitarra baiana sacramentada e atemporal.

O Axé que hoje, lá fora, chamam de lixo, não é o Axé que trepida em nossos pés e coração, contando a história de nossas ruas, ladeiras, dores e  vielas. Axé que canta nossa reinvenção em Fevereiro, de batucar na panela vazia e fazer alegria.

O Axé é energia e o carnaval seu palco. Bem como o frevo, o samba e a dança Afro.
Axé é mais que sexo, violência e mulher no chão.

E foi isso o que eles me disseram na noite de ontem: O Axé é a Bahia povoada de África com natureza Tupiniquim. Uma magia mestiça onde a natureza da canção toca o coração.
E na Bahia, nossa dança é oração. Primeiro um tique no pé. Deus já tomou o coração e o diabo, Deus me livre, os quadris.

Lenine, Letieres, Russo e Margareth... Seu Rufino e a fina flor Bellas. Rumpilezz na pegada de Caldas. A Concha é folclórica.
Agradecemos ao vosso impulso, não como astros, mas fomentadores de nossos valores culturais e nossa identidade artística. Gratos pela ponte entre nós e a vitrine do mundo. Isso é Axé. Vocês são nosso Axé.

Tem um mundo de gente baiana que se esqueceu da gente. Um tsunami musical devastou nossa Baía. Mas quem vem de África já sabe como é: Quando o sol se vai, é tronco. Quando ele chega, negro de pé. Negro ainda é Samba, Capoeira e Candomblé.

E sabe que a gente também quer...?
Botar o bloco na rua. Como querem as pérolas no centro da concha... As pérolas que já foram areia vibrando lá do alto como nós, os pequeninos grãos da Bahia.

Queremos essa música lá de trás. Rica no que somos.

Queremos blocos sem corda e ruas sem dor. Um Pelourinho sem violência e escravidão.

Queremos salvar o carnaval do povo, o carnaval cultural que foi pisoteado pelo capital.

Queremos nosso acesso e nosso ingresso direto, sem câmbio ou cambista. Quem fiscaliza?  Quem cuida de nosso direito à cultura? Quem faz valer os artigos 215 e 216? Acredite! Nós sabemos. Nós queremos. Merecemos.

Queremos a cidade de luz e prazer, correndo atrás do trio.

Queremos um carnaval de iguais, um carnaval de paz. Sem cordas, como os blocos de rua cariocas.

Todos na rua com confete e serpentina... E viva ao carnaval de Recife e Olinda!

Porque a celebração da carne não é matança, é vibração incorporada na matéria.
Carnaval é alegria e prazer.

Pulsa no ar da Bahia uma diferente energia...

Abra seu coração para receber nosso verdadeiro Axé!



Texto referente ao show realizado na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, em 15 de Dezembro de 2013.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

meu quintal



a lua me deu uma luz...
e este quintal já nem quer mais saber
quantas folhas verdes da terra molhada que ele regou

o sol todo dia faz de manhãzinha chegar
e essa luz é a cara da maria clara

se eu pudesse chegar com os pés na montanha agora,
já estaria lá
no meu lugar

onde o mar é minha varanda 
e a cachoeira meu quintal
maior; tal e qual meu interior
que guarda toda cachoeira em um só quintal
com uma saudade de quem nunca partiu

lembrei bem que hoje um menino me chamou no trem
e eu lhe disse: como vai, meu amor?

(...)

a lua me deu uma luz
e este quintal é o meu viver


terça-feira, 5 de novembro de 2013

Gilberto Gil e Clarindo Silva. Um chamado negro no Pelourinho.

                   
fotos: g1.com.br e tribunadabahia.com.br

                             
Trinta anos de benção é a serenidade de Clarindo Silva e a presença de Gilberto Gil no Pelourinho.
A suavidade do olhar e firmeza do sorriso de Clarindo são retratos que guardo da terça-feira mais preta e mais linda do mundo.

A Cantina da Lua é ali do lado e o mestre de cerimônias do Pelô vai ao palco saudar o irmão de arte e todos os irmãos da resistência cultural baiana: “Isso aqui é para provar que a Bahia gosta do que é bom!” Se emociona Clarindo ao ver a praça cheia, à meia noite em dia de semana.

Fora da África, a cor mais bela é Salvador. Onde é mais viva a cor da Bahia.

Aquele rei momo de outrora é franzino e balizador. Sua simplicidade esconde armas étnicas de uma odisseia vivida por um bravo guerreiro.
A benção, como o Pelourinho, é uma resistência para quem acredita na força e no brilho da negritude baiana.
“O Pelourinho é viável!” Brada Clarindo ao lado de Gil no Terreiro de Jesus.

Essa noite eu voltei para casa muito feliz com a minha Salvador. Ao contrário do que, infelizmente, estou acostumada a presenciar, senti um clima de paz, harmonia e solicitude. Vi pessoas sorrindo, se cumprimentando. Não vi assaltos e nem tentativas, como cansei de vivenciar nesta cidade de natureza encantadora e tantos desgastes sociais.
Vi a desigualdade, como em qualquer metrópole, mas a felicidade superava o semblante de dor daqueles que enfrentam a vida desarmados.

Agora me recorda a luz de Clarindo e a música de Gil convidando a todos: “vamos fugir deste lugar, baby...”

Agora me recorda o balanço e a alegria de minha gente, a irmandade, a celebração, a união... Um marco para ratificar que a missão não é una, é tão diversa quanto o Brasil, tão negra quanto Salvador e tão forte e capaz quanto a música e a cor da Bahia.

Clarindo finaliza assim: "...Porque ninguém consegue ser feliz sem pensar no bem do outro."

Sinto um vento de mudança em Salvador.
Sinto o coração da minha gente pulsar.
Escuto do fundo da alma, uma cidade gritar “Salve, Salvador!”



segunda-feira, 14 de outubro de 2013

declaração de amor

Para minhas irmãs eu já fui - e sou - a ovelha negra, a que viaja, a cheia de "tiuria" a desequilibrada, a louca.
Mas quando as encontro em meus sonhos, dentro de meus "devaneios", sinto, junto a um amor tão grande, a importância de suas presenças em minha vida. De tal forma que se elas não fossem elas, eu não seria eu.



segunda-feira, 16 de setembro de 2013

pobre menino

foto: blogdtina.blogspot.com

Aquele que não sabe o que é, busca se encontrar nos salões de uma mulher.
A mulher vazia em salas vãs, abre suas portas ao Don Juan, que logo se perde novamente e pede ao amor novo cheiro, nova flor.

Qual jardim arado, de verde gramado, foi se perder jasmim e bem-me-quer?
Mal quer saber o varão onde está sua flor primeira, o derradeiro sabor da paixão.
Ela guarda por baixo das anáguas e do vestido azul, todo o mistério porvir.
Ele a viu no sonhar, mas acordado, haja beijo, flor, suor e despudor. 
A guarda num lugar fechado, de apelido coração.

Cheio de mãos ocupadas que apalpam a sem vergonha com força, xamego e xodó. Sossego que é bom... Deixou de lado quando deixou de ser menino; guardado num canto iluminado do sombrio casarão.

Ela te espera, menino!
Não escuta  o que conta o sol?
Vai dançar o canto da chuva! Deixa chover a alegria de chegar.

Abre os braços
fecha o ecler
estanca esse orgasmo desperdiçado.

Deixa o amor trazer,
sente a paz de receber
a verdadeira mulher.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

ritual sexual




O olhar alumiou
e o sorriso disse sim
àquela voz que cantou

ele não é preto e nem marrom
é quase da minha cor;
 nossos movimentos revelam
 onde tudo começou.

Dançamos sem música
a canção do amor
da fertilidade, da sensualidade
o ritual perdido por séculos de ilusão

tomou minha mão
acariciou
tocaram meu corpo suas mãos
calejadas de canção

aquele lugar sumiu;
desapareceu na cor da noite
no sussurro da vela apagamos
e nos vestimos de amor

quando os olhos abri
já não era ele
talvez nem fosse eu
era o nascer (espi)ritual

não seria aquele dia
mas a fresta da janela que irradia
anunciou a cerimônia
que por si se fez

nos amamos sem meta
sem alvo e sem fim
de janelas abertas
recebemos o prazer


agora sei
onde quando e por que mudei;

sem entrega não há transa
não há perdas ou danos
no tempo precioso

meu corpo é um templo
meu sexo sagrado
me entrego em matéria
ao amor sacramentado

é ancestral
é ritual
uau...

 

quarta-feira, 10 de julho de 2013

meu presente é você


Somos baianos
 e somos jovens;
e ainda que não tão jovens
somos novos, sempre novos
sempre novos baianos.
Nossas tardes dizem
nossos pensamentos compartilhados
o dia nascendo, sempre bom e tão diferente;
sorrir, descontraídos
regados de boa música
a música que nós somos
que fala de nós
de nossos pais;
gargalhadas, rituais
escutar...
dançar...
cantar...
amar...
compartilhar a maior glória que a vida nos dá:
o presente. instante em que tudo pode acontecer.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

acredite se quiser

eles dizem que não sei
que sou crente demais
até falam em fanatismo

pois vou lhes dizer:
de fato não sei
e nem quero saber

o que sinto me diz mais; 
quando o silêncio pede a vez
os gritos perdem a voz

e nem gosto tanto assim
dos gritos;
mas se for de feliz... 

eu grito, eu sigo, eu sinto
eu sou, estou, e vou
para onde o infinito for

onde a volta se faz ida
e escorre pelo mundo

a doida filha querida






segunda-feira, 1 de julho de 2013

O CHAMADO PARA A REVOLUÇÃO.

foto: Afronaz Kauberdianuz

Um sentimento de unidade se alastrou pela cidade. Logo tomou conta de um país que parecia dormir. Nesta hora ignoramos as nossas cores, profissões e conquistas sociais e fomos às ruas para dizer: AS COISAS NÃO ESTÃO BEM!  

Fomos exigir nossos direitos, o mínimo possível de dignidade enquanto cidadãos que pagam seus impostos e precisam de retorno para esses investimentos. Nós somos os cidadãos pacíficos saturados de tanta passividade. Nós somos aqueles que disseram BASTA!

Neste processo de manifestação, alguns cidadãos certamente muito revoltados e despreparados para o manifesto discursivo, tiraram proveito da situação, agindo contra o nosso patrimônio.

Nós, manifestantes legais, não fazemos parte disso e não concordamos. Não viemos promover batalhas sangrentas, como em outros momentos da história. Vivemos outro momento e temos em nosso favor uma rede de informação onde veiculamos (compartilhando e curtindo) nossos sentimentos comuns. UMA SÓ VOZ!

Mas será que em nosso dia-a-dia, AGIMOS COMO UM? Ou fomos para as ruas apenas como contingente para gritos de guerra?
(...)
É hora de pensar unidade como toda reunião entre duas ou mais pessoas. 
Na sua família, há uma unidade de interesses ou cada um cuida de si? Na turma da escola ou faculdade, estão todos visando os benefícios do coletivo associados aos individuais, ou cada um cuida de si? E no bairro, na empresa, na cidade, no estado, no país?
Uma comunidade reúne interesses, direitos e deveres comuns às unidades que representa.

Passado o orgasmo da revolução, deitemos a cabeça no travesseiro sem a sensação de que acabou. Nossa relação patriótica não pode ser semelhante à atual banalização sexual, que tornam efêmeras as relações a dois.

Já fomos às ruas, já gritamos, nos articulamos, reunimos e mostramos que nós conduzimos essa nação e faremos revolução sempre que estiverem em débitos conosco. Eles já sabem do nosso poder e autonomia.

A REVOLUÇÃO COMEÇA AGORA! 
Propomos mudanças, e elas acontecerão. É óbvio que não será exatamente como cada um deseja, mas está acontecendo e medidas continuarão a ser tomadas por trás das bancadas políticas. "Quem imaginou?"

ENQUANTO ISSO...
A Revolução é una, mas o objetivo continua sendo comum. É hora de fazer revolução progressiva com muita educação e exemplo. Cada beija-flor carregando seu tantinho de água para apagar o incêndio da floresta. Nossa comunidade é formada por bons advogados, médicos, artistas, professores e outras classes profissionais. E foi emocionante ver cada um colaborando para o BEM DE TODOS!

SOMOS BRASILEIROS! E vamos manter esse discurso em nosso dia-a-dia, transmitindo àqueles que vivem à deriva da comunidade.

É HORA DO DEVER DE CASA, E TODO DIA TEM LIÇÃO!

Quem imaginou que essa união seria possível? Mas aconteceu. Mostramos que estamos juntos e temos necessidades e desejos comuns para a nossa cidade, estado, país. 
SÃO NOSSOS DIREITOS!

E os deveres? Onde ficam nessa história? Como vamos exigir que o sistema faça a sua parte, se não fizermos, cada um, a sua?
É preciso continuar juntos, cuidando, protegendo, escutando, auxiliando, informando... Fomos às ruas falar de política. Vamos manter esses diálogos nas escolas, nas praças, nos bares, botecos, nas confraternizações de família. 

Agora que engrenamos, vamos manter a constância porque esses acontecimentos mostram que estamos vivendo a ERA DA COMUNICAÇÃO! Então, aqueles que são mais articulados neste sentido, precisam propor diálogos, levantar questões e não deixar a mídia ocupar novamente as nossas mentes com assuntos supérfluos que nos mantém à deriva do nosso sistema. 
NÓS SOMOS PARTE DO SISTEMA!

ESSE É O CHAMADO! Vamos acordar para o bem comum todos os dias, para que não se perca o sentido de Unidade e Comunidade. Cada um que está aqui é um pouquinho de Brasil. Somos um país.

A receita é muito simples e somos desafiados o tempo inteiro pela honestidade, pelo caráter, pela gentileza... A resposta para tudo isso está dentro de nós, em um canto expansivo chamado consciência.

Precisamos manter essa consciência coletiva. Se eu tiro do meu irmão, pensando em interesses particulares meus, estou rompendo a corrente da comunidade. Se eu colaboro com ele, estou fortalecendo a nossa corrente e aumentando o nosso poder de articulação.
E o melhor de tudo é que não precisamos de polícia para nos punir, a consciência é uma lâmpada acesa sobre o arquivo vivo de nossas mentes.

E a reflexão é simples: Se é bom para mim, não prejudica o irmão e fortalece a comunidade, posso seguir. Caso haja impasse em um dos três pontos, consulta-se novamente o arquivo vivo até encontrar uma solução viável e menos agressiva ao todo. 
A PRÁTICA APRIMORA OS SABERES.

Então, cidadãos brasileiros, irmãos em pátria, vamos ocupar nossas casas, bairros, cidades e país com amor e consciência? Vamos tentar estrangular aquele “jeitinho brasileiro” que quer resolver tudo com oportunismo? Vamos ser para nossos companheiros, amigos e desconhecidos o que desejamos que eles sejam para nós? Vamos manter a corrente ainda mais forte e se as mudanças que propomos ao nosso sistema não forem suficientes, vamos gritar novamente porque O POVO ACORDOU!

E não pode mais dormir! A luta continua em cada guerreiro de nosso país! É um trabalho contínuo como educar nossos filhos, como manter as nossas famílias, nossos empregos. Vamos respeitar uns aos outros e exigir respeito para o nosso povo que trabalha, trabalha e trabalha por um país que é seu.

AGORA QUE CHEGAMOS AQUI, NÃO VAMOS DEIXAR A CORRENTE ROMPER!!


terça-feira, 18 de junho de 2013

sem fronteiras

sinto o mundo sem fronteiras
sem traves ele me invade e eu
o recebo

coração inflado
nos poros o sopro 
da emoção

viver sem restrição
e consciência de ser
divino

fundamental para o fluxo 
universal equilíbrio de pesos 
e medidas

eu choro e não sei
ser triste na fantasia da vida 
real

as lágrimas revigoram a certeza
é a verdade que disse o meu pai
manué



segunda-feira, 17 de junho de 2013

pobre rosa


ela teme o abraço de minhas mãos
certa de que teus espinhos poderão me machucar

eu gosto dela
e ela de mim

tuas pétalas me acarinham a face
tua cor me alegra os dias

o amor nos toca e desabrochamos em prazer;
belo e sublime é o instante de ser feliz

pobre rosa... ignora tua beleza
lamenta o futuro ferido

pobre rosa... não quer viver o amor
pelo temor do por vir

pobre rosa... chora no inverno
a pré-matura morte da primavera

sábado, 15 de junho de 2013

desabafo de terra, samba e carnaval.

Aqui em nós nasceu o samba. Todo mundo sabe de onde veio, e isso já não importa mais. A tradição leva o nosso nome e por toda parte estamos nós, baianos, neste samba viajado, pulverizado e  ritmado no batuque de outros estados.

Lá no interior, Cachoeira exibe seu folclore. Mas não há de ser somente exposição, fonte de pesquisa ou inspiração de quem se achega. Há de ser vida!

A porta metropolitana da minha Bahia está machucada, confusa de manifestos musicais e quem vai até o chão nem sabe de onde vem.

A curta memória da maioria esqueceu ou nem conheceu; e a saudade do meu espírito negro se manifesta na carne que é parda. É de toda cor o samba meu.

Meu coração é samba. Eu sou de Cachoeira, sou baiana. 

Vivo o Rio de Janeiro e os  cordões da Praça Onze no antigo carnaval que nem vi. 

De onde migrei, os cordões são ricos mas já não separam mais as cores, os valores sociais. Já não separam mais a dor do povo meu, e os donos da casa são comprimidos em um corredor da calçada. 

Ambulantes e foliões, pipocas e pipoqueiros se animam para esquecer aquela dor, ouvindo lá do alto do trio elétrico: Salve, Salvador! Que bate, que quebra, e se diz que é por amor. Ainda tento crer... Eu gosto do carnaval no Pelô

E quem nos salva deste apartheid de nós mesmos? Onde está a essência da nossa alegria? Esse não é o carnaval que eu queria. Um carnaval em que a ira dos excluídos se manifesta nos privilegiados. E a culpa é de quem? Da memória perdida de quem somos. Ou talvez nem sejamos mais. Tanto tempo se passou...

Devolvam a minha Bahia, por favor!!!

Eu vim buscar pedras na cidade tão negra quanto aquela que me criou. Aqui eu leio a minha cidade, a que me pariu. Aqui estou a mamar nos seios mais fartos da minha terra, a ancestral. Para me descobrir, eu saí do meu lugar.

Aqui vou desembrulhando, desembaralhando, abrindo os presentes e me redescobrindo naquelas canções de percussão que me tremem o ventre, que me tremem o chão.

Eu sou escrava da minha Terra e não temo, para a ela retornar, toda vida caminhar.



quarta-feira, 12 de junho de 2013

o amor que eu quero

como eu quero
alguém que me ame e não se importe com o meu amor
que me ligue e não se preocupe se vou atender

que eu ligue e atenda se puder, ou retorne quando puder
que saia com os amigos para viver
que me deseje boa viagem, mesmo sabendo que vou demorar

alguém que faça comigo um amor conduzido 
pela energia do nosso olhar
pelo enroscar de nossas línguas
e pulsar de nossos corações

desejo alguém 
que esqueça o orgasmo
para sermos surpreendidos pelo tsunami avassalador do prazer
para ficar sem palavras depois do divino momento de amor

como quero um namorado, um amante, um amigo, um companheiro meu
que não se importe com nenhum desses títulos
e seja apenas meu

pra gente brincar, sorrir e viver
trocar histórias e juntos crescer
quero te ver crescer no caminhar

desejo a sedução de um olhar
a travessura de um sorriso
o prazer da dança 
movimentos únicos e progressivos

com ele trocar suor
nossas tintas
abrir meus poros 
sua energia em minha pele 

andar de mãos dadas
olhar à frente sem prever o futuro
e esquecer o que ficou nos passos dados

eu quero um laço fácil  de atar e desatar
um amor eterno hoje
leve e suave

que ele me veja profundo 
através do brilho deste olhar
esqueça a ilusão de minhas roupas, do meu corpo e cabelo
e se deixe conquistar pela verdade que sou

quero alguém que acredite na passagem
nem começo e nem fim
num encontro reencontro;
que nossos caminhos se cruzam
e ainda assim somos dois

seremos a canção improvisada no carinho do momento
a trilha sonora de nós
em seu livro quero ser uma folha, um capítulo ou a última frase

que seja hoje, que seja agora
o amor de verdade, mesmo quando acaba
fica guardado no presente que o consagrou
em nossos corpos, em nossa alma...
vive no infinito o verdadeiro amor.















terça-feira, 4 de junho de 2013

crônicas da bahia


Duas mulheres falam ao telefone por uma hora, nove minutos e quarenta e um segundos. Pode!? Nem mãe e filha e nem namoradas. Uma profana e a outra sagrada. Pelo menos ela pensa que é. Ou finge. Vai saber...

Quando encontra a outra endiabrada, parece até que tá possuída.

Novidade por novidade, as gargalhadas alcançam a extensão geográfica que as separam.
Se chamam marida. Mas esposo que é bom... Tá dando é trabalho de achar.
Eu mesmo que nunca vi isso.

Uma foi se meter no meio do Brasil, onde pensa-se até que é Paris.
Foram perguntar se ela é o pão de queijo ou a farinha. A nigrinha respondeu súbita e saliente: "Eu sou a pimenta!" Ai ai, viu?

Os pensamentos corriam soltos pela mente poluída da relaxada. "Se eu tenho uma perna na Bahia e outra em Minas, onde estará a pimenta desse povo?" Deus que me livre!

Crise nos dois aparelhos. Somente nos assuntos cautelosos como mudança, ou leves como meditação é que os abdômens repousavam.

A sirigaita não foi contar pra outra que em Minas tem picolé de mini-saia?!?!? Agora veja... Um lugar frio da porra vai perder tempo pra fazer picolé de mini-saia??  Oxe...

"Uai" foi quando a pervertida inventou uma história de que lá por aquelas bandas a Emília se encontrava escondida com o Saci Pererê, e que o Visconde de Sabugosa era quem arrancava os cabelos, de raiva dessa pouca vergonha.

Doida pra ir no Rio de Janeiro ver a falsa beata dos rituais de fumaça que vive colocando o Todo Poderoso em tudo o que é conversa.

É assim... É só triscar no fio, ou melhor, acionar o vibrador que ela atende, pulsante e latente, a outra do outro lado. Periguete enrustida que fica esperando o carnaval chegar pra largar o doce atrás do Parangolé e dizer que só faz isso quando tá com a outra.


Por fim elas falam de si. Querem se ver e viver... Soltar seus ares... Flutuares... Se não conseguirem alcançar o céu, dá pra chegar até o baile  funk  no morro.  Puxa vida, hein?! Uou!



domingo, 2 de junho de 2013

eu não sei sambar


na roda de samba Ela vem
e ele com ela
por ele, Ela me vem

o sal da terra penetra
é pelo tambor
o encontro do corpo no encanto do olhar
um ritual

Ela me chama e eu volto pra mim
já faz tempo que Ela me chama assim
agora vem de volta

no sol que suei, suaram os meus
é ancestral

quem vem de lá, vem me ver
e vem comigo sambar

eu risquei no mapa meu lápis preto: a minha cor
cheguei onde estou

na terra que toca, batuca, estremece meu corpo 
assim eu volto
pois sou de lá

missão que ainda não sei
a mão do meu povo canta meus caboclos
e eu não sei sambar

apanho do samba, de todos os santos
meus santos

as mãos espancam o instrumento
meu corpo em movimento
e eu não sei sambar

catando os tantos de lá
desde a luz do sol do recôncavo

suor trocado para recebê-La
meus poros se abrem por Ela

dentro do corpo um coração sente
o que a cabeça ainda não compreende
ainda por revelar

e eu sei
que ainda não sei 
sambar

sábado, 1 de junho de 2013

compreensão

o que é meu, é meu
o que não é, não é
contestar a vontade de Deus
é egoísmo e má fé 

terça-feira, 21 de maio de 2013

as cores do sol



Há uma mancha em minha raça. Branca.
Corre em mim a cor da minha gente. Vermelha.
Já não sei de onde venho. Sou a miscigenação.

Eu sou parda
cor de três raças
dor de tantos irmãos

Eu sou o chão onde todo mundo pisa. O chão que chora de lamento ou emoção.

O recôncavo me pariu. Mandou sua filha para São Salvador que abençoou.

Meus pés gostam do barro do sertão. Minh’alma canta tão profunda quanto a terra seca.

Fui potiguar e da Ponta do Seixas me apontou a mãe África.

Corri trecho e meu coração preto voltou às senzalas onde servi com o mesmo amor que me entreguei ao homem índio, ao homem negro...

Hoje eu Rio...

Neste corpo carrego um tanto da alma que o universo assobia. Ora sou energia, ora posso tocar.

Eu sou um país onde a união se faz possível, onde o encontro é motivo de abraço.
Em meu lugar está ancorado um negreiro. Na proa tento a alquimia do amor. Transformar meu sangue em lágrimas que foram suor e já passou...
Aqui tento esquecer a dor que eu mesma causei, secar a ferida que abri...

Pois já não tenho para onde ir e o sol me diz que a chuva lhe contou, numa noite de lua crescente como esta, que é hora de se arrepender, de chorar, pedir e perdoar... 

É hora de entender que somos todos um só amor, um só valor. Peças de um quebra-cabeça que cansou de desmontar. Vamos uni-las e construir um dia mais bonito para todos que somos nós.

Não é utopia, nem demagogia, é união. Sinto aqui em mim essa missão. 

Fácil?? Não. Simples?? Eu vivo. É a minha missão. Acredito, e a cada dia cumpro uma etapa com amor, muita disciplina e fé. 

Com o sol que nasce, todos os dias sinto uma nova luz.

O amor convida para uma grande festa. É de graça e tem muita graça. 

E como é bom dançar!!!


quarta-feira, 15 de maio de 2013

a viagem

entre um conflito e outro
a vida me abre um sorriso

nessa hora me perco...

volto melhor,
mais leve
e feliz


foto: luizgeremias.blogspot.com

terça-feira, 30 de abril de 2013

a conquista


problemas:
podemos chamar de montanha

o ponto mais alto é o cume,
sabemos que ele existe
muito alto, distante
ou nem tanto

a disposição para seguir ditará o tempo 
e condições do caminho até o alto

empecilhos podem tornar a trajetória mal dita,
talvez pela ignorância do que há lá em cima

liberdade dos ventos, sabedoria da imensidão
o suave suspiro da conquista:
podemos chamar solução

domingo, 28 de abril de 2013

Esta carta é para você.




Alguma vez na vida você sentiu compaixão?

Já te fez alegre a alegria de outro alguém?

Já sentiu o seu coração encher de amor por um amigo?

Um dia o sol, o sorriso de uma criança, o canto de um pássaro, as cores de uma flor ou borboleta ou um casal de velhinhos de mãos dadas já te promoveram certa felicidade?

Se sim, peço agora sua atenção porque esta carta foi escrita para você!

És escolhido
Se interessarem as próximas palavras, poderá tornar-se um missionário
Nós precisamos de você!

Esses sentimentos são indícios naturais da genética universal. Assim como a genética de seus pais, comportamento e características da árvore genealógica que lhe deu a vida, o Criador – Dê a Ele o nome que quiser, pois isso não fará diferença alguma – está presente na formação espiritual de sua cria, que traz em si o DNA da Luz.

Bem como os pássaros polinizam as flores, as grandes árvores são copa para as árvores e seres menores que vivem sob sua sombra, alimento e cuidados, cada ser filho foi escolhido e suas respectivas missões foram atribuídas no ato da criação. Enquanto dotado de consciência, o homem tem uma missão superior e o seu trabalho é proporcional ao seu nível de escolhas e ações.

Apesar de parecer complexo, é muito simples. Ocorre que essas tarefas estão ofuscadas por aquilo que o homem criou/construiu e estabeleceu como seus objetivos primordiais aqui na Terra.

A Terra está pedindo socorro, não só seus elementos naturais que não conseguem se comunicar conosco por uma linguagem igual. Os sentimentos, as dores, sofrimentos e temores pedem socorro para nós e isso está muito claro graças às poderosas ferramentas de comunicação que o homem desenvolveu.

Ser escolhido é nato de cada ser divino, mas agir como missionário é uma escolha simples que requer certa disciplina, amor e dedicação. Mas tenha calma... Isso não é novo para você. Desde que começou a conhecer o mundo a escola estabelece disciplina, a família amor e o mundo profissional dedicação.

A tarefa agora é identificar os sintomas desses primores dentro de ti (aqueles sentimentos que estão no início da carta) e se manter atento a cada um deles. Quanto mais atenção eles recebem, mais crescem. Mais você se sentirá responsável e mais será agraciado com tudo isso.

É preciso entender que não será fácil, mas a consciência de ser parte do todo e estar protegido pelo Regente Universal lhe dará confiança e segurança que jamais sentira em toda sua vida. É uma proteção divinal.

Assim, chegará o momento em que esses sentimentos crescerão e se propagarão àqueles que estão além da sua cadeia familiar, de amizade e até da sua espécie – Como muitos hoje já sentem afeições por alguns animais. 

Desenvolvendo esses sentimentos e lhes dando a devida atenção, perceberá o quanto é um ser de Luz, um ser bom. E ninguém além de você precisará reconhecer. É claro que as pessoas perceberão e algumas poderão até comentar, mas antes delas, a genética universal do seu Pai expressará por sua consciência todas as atribuições a que você merece, até então escondidas por detrás do seu ego, que a essa altura será amor.

É isso. O seu Pai conversará contigo e você poderá até pensar que está “falando” sozinho. Não se assuste! Ele se manifestará por sua consciência e antes de cada ato, você mesmo perceberá até onde está sendo bom e até onde poderá prejudicar alguém, que a essa altura chamará de irmão.

Isso também não é novo. A missão existe desde que há consciência de seres humanos e livres. O que nos traz grande poder de vitória ou derrota, a curto, médio ou longo prazo, é algo que pleiteamos tanto ao nosso Pai, e nos foi concedido, chamado Livre Arbítrio. Essa poderosa arma, desde muito tempo, está nos separando um do outro, pensando e agindo dentro de propósitos individuais – seja familiar, no condomínio, no trabalho, nas classes sociais, nos países ou doutrinas religiosas.

Mas não vamos nos apegar a isso, essa carta não quer falar de coisas que já sabemos e que tanto presenciamos, ela quer lembrar algo que você sabe, que está lá dentro de ti, cochilando, adormecido ou em sono profundo.

Peço que comece desde já, reservando 10, dos 1440 minutos que tem o seu dia, para o silêncio. Tente esvaziar seu pensamento. Não force, apenas tente e relaxe, será uma tarefa continuada. E não será fácil, mas lembre-se que já conseguiu executar tarefas muito mais difíceis, e VOCÊ SABE QUE É CAPAZ!  

Escute o silêncio do universo dentro de você e escute o mundo também ao seu redor. Isso lhe trará uma paz que depois de algum tempo de prática, naturalmente você desejará mais momentos consigo mesmo para se reintegrar ao seu próprio eu.

Mas lembre-se, nada de ansiedades ou angústias. Não tente associar o silêncio ao fato de ser escolhido ou à missão que lhe é atribuída. Nessa tarefa, diferente de muitas outras, o seu livre arbítrio vai repousar com suas palavras e pensamentos. Daí, no dia a dia, na atenção que dará àqueles sentimentos dos quais falamos, na disciplina de mantê-los presentes em sua rotina, você perceberá involuntariamente a ligação entre tudo isso. Com o tempo, sentirá e terá a certeza da ligação entre toda a Cria Universal e acontecimentos.

Eu já vivi tudo isso e continuo na disciplina e firmeza desta Luz que a tudo ilumina e clareia. Em alguns momentos sinto que sou a própria Luz e que a missão é trazer meus irmãos, todos os filhos do mesmo Pai, para essa Luz que clareia os olhos, sorrisos e corações daqueles que se sentem, e sabem que são os filhos de um só Criador, e tem consciência de que serão a todo tempo desafiados, pois é preciso ter certeza do que se é e do que se quer. E em cada provação, na firmeza e confiança neste Ser Supremo que a tudo criou, estabelecerão e afirmarão a si mesmos e ao resto do mundo que não estão sozinhos.

ESTAMOS TODOS JUNTOS E PROTEGIDOS POR AQUELE QUE NOS CRIOU, MEU IRMÃO. MAS É PRECISO TRABALHAR.

Seja bem vindo meu amigo escolhido, meu irmão missionário. Juntos, traremos de volta a Paz e o Equilíbrio da nossa Terra, para nós e todas as espécies vivas que nela habitam e habitarão. Este poder nos foi concedido pelo Pai.

Um dia, se Ele quiser, voltaremos para continuar a nossa missão em carne. Se não, o trabalho continuará em nossa casa: O Cosmo, o Universo.



Amor e Gratidão.