domingo, 23 de março de 2014

na casa de batatinha

dançar na casa de batatinha
é me embriagar de música,
resistência e ancestralidade

a casa amarela da árvore na ladeira
é uma fonte de ar que carrega vida
onde ainda vive o homem que tudo começou.

dançar na casa de batatinha
é me embriagar de poesia, 
samba e madrugada

ouvir um conto de história
cantar a lua
rir e chorar

dançar na casa de batatinha
é amor, devoção
e muito mais: sambar

inexplicavelmente sambar.

sexta-feira, 21 de março de 2014

negrinha



clariôôôô

ô mainha, chegue aqui
o sinhô abusou
abusou, mainha
sinhô abusou de mim

quero voltar mais lá não
quero não, mainha
deixa eu voltar lá não
quero não

antes do sol rasgar
sinhô rasgou meu pano.
eu tô com vergonha de mim, mainha
tem dó, deixa eu ficar

sinhô disse assim:
"fica de quatro, nêga!"
sou bicho não, mainha
bicho eu não sou

vamo embora comigo, mainha 
vamo agora pra Palmares.
vem mainha,
vai ser bom!

sinhô se lambuzou
e sinhá derramou meu sangue
agora eu tô ferida e tô doente
tem folha que cura alma, mainha??

meu Olorum... soberano criador
me lava
Exu... guardião e senhor
me leva

meu axé, 
minha fé, 
meu orixá... 
hão de limpar toda sujeira que branco criou.


obra: cabeça de mulata, di cavalcanti


domingo, 9 de março de 2014

minha carne é de carnaval, meu coração é igual

Aquela cidade fria...
Inverno no verão da periferia

No campo, areia molhada
a gota de chuva é arco-íris na ponta do capim
e o pequeno goleiro descansa na grade
que já não tem

Subúrbio é saudade da cidade do interior

Para a avenida levo banho de alfazema
com  alívio de meditação,
levo a paz da oração
e o incenso perfumado

toda luz de um canto esquecido da cidade.