quarta-feira, 3 de junho de 2015

um ramo do recôncavo


De onde vem tanta água salgada, escorrendo a alma de um coração tão doce?
De onde vem tanta água que não sei cessar?
O que guarda a memória que lembrança nenhuma é tamanha para contar?
E é tão forte, meu deus...  Tão forte, santos meus... Me fortalece, soberana rainha...

De onde vem a força que transborda dos zóios, o desaguar de um coração que deveras sabe, e não diz?
Quem sou eu...?
Quem sou eu...?
Sambadeira chorosa folheando a história dos antigos meus.

Dona Aurinda de Itaparica... Dona Chica do Pandeiro... Ana, Dona Dalva, Mestre Gilson... Domingos Preto... Seu Deodato...

Me samba a enxada, o prato... As tábuas do charuto... A terra pra trabalhar... Levar da roça para vender na feira da cidade.

Minhas lágrimas correm um labirinto profundo, antes de se mostrarem ao mundo. 
E este solo é fértil d’água...

Ô muié... Fala! Conta!
-Não sei falar... Não sei dizer... Só sei ser.

Tem alguém ai que saiba ler as águas? Me traduzir a alma?
Há um lago misterioso aonde nado, nado... E nada, nada posso ver.
Vem com as águas!

É tanta água que só nessa leva, cai desde o começo da prosa.
Chorosa, saudosa do que não sei.

(...)

Ontem me chegou uma reza que dizia assim:

“Minha raiz é Cachoeira
Sou um ramo do Recôncavo
A Bahia é minha terra
Do mundo sou patrimônio”

(...)

Se um dia eu merecer navegar com saber, entre as águas que brotam da terra e as ondas que chegam do mar, prometo:


Uma história bem bonita, me farei sabida, para ao mundo inteiro poder contar.