sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

ceia e ciclo


transcendendo às datas, olhos tão abertos 
veem para além das alegorias 
das mesas, das fantasias, das maquiagens... 
o ano está indo. em nossa cultura, o círculo e a intersecção



venho agradecer às forças divinas, forças da natureza 
representadas com maestria pela mitologia que rege 
a minha cultura mãe


meditar os ciclos e ser água, terra, vento... 
protegida pela espada de um deus que intercede


mulheres regem a lama fértil da vida, 
o sopro brinca de ser brisa
e as águas formosas riem.


agradeço silenciosa em felicidade
é sabedoria, não subir e nem descer


desaguar 
no horizonte voar
escorrer...


gratidão, áfrica mãe de minha história
abertos braços abraçam o presente por vir.


quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

devaneios da sobriedade de uma mulher

eu queria escrever um tanto de coisas que passa e se passam aqui desde a derradeira vez que abracei a caneta e deslizei-a sobre o papel, registrando o que possível, diante de tudo que sente o ser eu.
estive poeta, alegre, triste e melancólica. por vezes, tantas delas, agradecida por viver, vir e ver a vida como quem observa os passos dos seus próprios pés. pés firmados em uma história que se conta pelas marcas que carrega o meu corpo, pelo brilho que traz meu sorriso e verdades filmadas e projetadas por meu olhar.
vivo em dias de altas tecnologias e escassas técnicas de transmitir os ensinos que são de fato necessários para a evolução dos seres, o aprendizado das crianças e compreensão da maturidade humana, enquanto seres da natureza divina, parte de uma família materializada e responsável pela expressão do criador e da fertilizadora, gestora da vida.
a vida...
que me ensina todos os dias no erro que de nada errado está, já que me guia o coração. a disciplina me faz observar sem julgamento e perceber as respostas de cada ato, cada fato.
faço do meu espaço um constante movimento aquoso. nele vou navegando, tantas vezes sem rumo certo ou sabido, mas coração me leva, e cada erro acerta-me a consciência que instrui sem penalizar.
esta vontade de escrever deve ser  o fim do ciclo anual que se aproxima. tenho sentido o que vivi e vivendo tudo o que senti, que não faz mais parte da lembrança tanto assim, mas a carne trêmula anuncia que está tudo aqui. eu sou a eternidade.
aprendi a voar. sim, eu sei voar. e até levei comigo almas irmãs para descobrir a libertação espiritual através do vôo que se consagra no que chamamos de sonho, e é a pura verdade da vida astral.
este ano o astral me invadiu o plano dos homens e, mulher, naveguei por ele, descobrindo seus mistérios em um nível amplo da existência. sou ser universal.
este lugar onde meu corpo habita é região, um bairro de mim, logradouro da minha história. tenho vizinhos que estavam me esperando chegar. chegamos juntos aos lugares que remontamos no fazer dessa vida humana.
humana, vou aprendendo a trabalhar, que é viver no amor. o amor é a vida que vive sem medo, sem trama, sem trave e sem trevas.
não há nada de ruim. isso o que fizemos foi bom. não há por que se arrepender. nosso encontro é um pêndulo da eternidade que instruiu o encontro deste olhar. quando nos beijamos, mais foi revelado. sentimos. no abraço declaramos do corpo sutil: é um reencontro.
a eternidade de mim mulher, nasce nas entranhas de terra da áfrica, sobre as raízes da mata brasil. pindorama.
o que me disse o mapa astral, atenção a esta água que você é. é preciso direção. neste dilema peço o suporte do coração. ele segura na mão da razão para um dois mil e dezesseis mais racional, objetivo.
se com o coração já chego onde sou só gratidão, talvez a razão dê um equilíbrio à luz que trago.
sou só incertezas e fé, por isso sou a própria certeza de tudo o que vivo e sou. acredito nos meus guias, na minha mãe iluminadora, e no meu pai, mestre ensinador.
agora estou sem planos, mesmo que hajam muitas tarefas a cumprir. e não importa o que parece ser. descortino sem medo o presente de cada dia, vazio ou totalmente atribulado. vou vivendo aqui num lugar onde o coração do mundo pode sentir o amor. isso eu tenho ciência das mais sutis: o amor. por ele vivo e sirvo. ele me toma e eu bebo as águas nascentes que brotam e transbordam o caminho do riacho, da cachoeira, em um gole só. sou passagem. sou exército. sou a dança sagrada que nasce com o som do planeta. ele canta e eu danço, desde que sou partícula, e ainda sou, uma menina grão de poeira cósmica, a cachoeira, irmã da terra, das águas do mar. o vento. maré de março o ano inteiro.
mulher abundante de amor.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

rapé

tipi é o carcará que sopra o ar de ser livre
ter asas e sobrevoar o ser-tão

quando os espíritos do rapé me sopram o corpo, esvazio de tudo e respiro o ar de todas as coisas
leve, voo

lá do alto vejo o chão aquecer os pés 
e o vento me soprando as asas
é liberdade. você a conhece?

mais logo meus cabelos não serão tão leves ao vento...
estão alçando o voo de ser natural e livre
ser livre também é resistir. você sabia?

...

a paz que traz o sopro da floresta fala de um rapaz
paz é o seu nome e o que ele traz
faz voar alto 
eu voo para ele e volto aos ares de mim

expandi
rapé 
tipi

...

ao todo se entregar é voar
ser o todo e ter paz
ser paz

...

vejo minhas mãos descansando sobre a velha mesa 
quem é essa mulher velha? 
quem deu licença para ela se encontrar e se perder?
ser livre e paz?

ser mineral vegetal e animal
ser todo ancestral e florescer as pétalas da história que assobia

ser pássaro carcará 
ser-tão alma e coração
voar o vento de ser livre

tipi
rapé
tudo
eu
 
imagem: https://omundodegaya.wordpress.com

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

oxum

eu sou o bálsamo do puro amor
nasci vivo e sirvo
para com e por
amor

minha semente brota no alto
despenca jorrando a força
que conta de mim

com uma pancada 
eu me entrego à pedra
nossos filhos nascem mesmo ali

malemolente escorrego
ela não me toca outra vez
e nunca deixou de me tocar

desço dançando rio abaixo
no canto nossos corpos se perdem
até que me perca num braço de mar

no meio do caminho
um homem me bebe
nada se cria e nada se perde

segue...

eu sou doce
sou o amor doce
a doçura do amor

eu broto escorrego caio e vou
meu corpo canta
aqui tudo dança

secos jamais serão
os lábios que me toquem

leve forte em parte e todo
em toda parte eu sou amor



imagem: https://povodearuanda.wordpress.com/tag/oxum/

terça-feira, 18 de agosto de 2015

da oliveira




ele chega devagar e silencioso
como se batucando uma caixa de feijão

de repente, da terra que o torneia, brotam botões 
desabrocham por sua tez quase coberta 
os cabelos crespos cantam uma canção...

para o menino da tez da alegria

que mais, além de luz, o menino irradia?

terça-feira, 11 de agosto de 2015

8 anos

a flor nasce botão
e um dia desabrocha

serve beleza e perfume
aos passarinhos, seus parceiros, nutre

pode ser que nos dê fruto
também para alimentar

quando morre volta para a terra
servindo às plantas que vão chegar

todos os dias quando eu nascer
uma flor eu quero ser


quarta-feira, 3 de junho de 2015

um ramo do recôncavo


De onde vem tanta água salgada, escorrendo a alma de um coração tão doce?
De onde vem tanta água que não sei cessar?
O que guarda a memória que lembrança nenhuma é tamanha para contar?
E é tão forte, meu deus...  Tão forte, santos meus... Me fortalece, soberana rainha...

De onde vem a força que transborda dos zóios, o desaguar de um coração que deveras sabe, e não diz?
Quem sou eu...?
Quem sou eu...?
Sambadeira chorosa folheando a história dos antigos meus.

Dona Aurinda de Itaparica... Dona Chica do Pandeiro... Ana, Dona Dalva, Mestre Gilson... Domingos Preto... Seu Deodato...

Me samba a enxada, o prato... As tábuas do charuto... A terra pra trabalhar... Levar da roça para vender na feira da cidade.

Minhas lágrimas correm um labirinto profundo, antes de se mostrarem ao mundo. 
E este solo é fértil d’água...

Ô muié... Fala! Conta!
-Não sei falar... Não sei dizer... Só sei ser.

Tem alguém ai que saiba ler as águas? Me traduzir a alma?
Há um lago misterioso aonde nado, nado... E nada, nada posso ver.
Vem com as águas!

É tanta água que só nessa leva, cai desde o começo da prosa.
Chorosa, saudosa do que não sei.

(...)

Ontem me chegou uma reza que dizia assim:

“Minha raiz é Cachoeira
Sou um ramo do Recôncavo
A Bahia é minha terra
Do mundo sou patrimônio”

(...)

Se um dia eu merecer navegar com saber, entre as águas que brotam da terra e as ondas que chegam do mar, prometo:


Uma história bem bonita, me farei sabida, para ao mundo inteiro poder contar.