sexta-feira, 7 de maio de 2010

Manifesto pelo povo meu populares manifestações

Manifestações Populares. Principio tentando fazer uma análise sobre o termo. Quando? Onde? Como? Por que? Finalmente, que diabos é isso? Manifestação Popular, apenas, ora essa... O Povo se manifesta. Os costumes das megalópoles, metrópoles e toda a miscelânia globalizada que infiltra as sociedades desperta interesse a estas tais manifestações populares. E carece? Carece atenção particular quando o povo se manifesta, mesmo que num canto escondido lá do Ceará? Sei não, viu... Quando os homens e mulheres de dura labuta tiram o dia para comemorar, adorar, cultuar, protestar ou seja lá o que queiram fazer, normalmente com poucos recursos estruturais, é mesmo necessário uma análise mais criteriosa. E vezes o fazem em meio à lida, o que talvez contribua com essa tal curiosidade do povo de cá do espaço grande e vulnerável. O homem penetrado pela formosa globalização se curva diante da grandeza do homem pequeno que resiste e sobrevive à miscigenação sócio-cultural a que é submetido o homem-alvo da atualidade. E de onde vem? Lugar algum. Na verdade eles não vem, vamos até eles .

Modos e maneiras que chegaram até aqui sem quaisquer conduções da monstruosa e cansada mídia que abre um espaço para o “novo”, não o recém-surgido, mas o recém-nascido em seus braços de interesse duvidoso. Que se apresentem ao mundo as particularidades de mundos sustentados por raízes não capitalistas, raízes que se mantém rigorosamente fincadas ao chão, raízes que não se vê na superfície como os vegetais aquáticos, mas que estão penetradas ao solo como centenárias sobreviventes a transformações e desgastes dos mais diversos que convenientemente o contam como histórias recentes, novas, conforme dito há pouco. Que possamos então conhecer estes povos que se manifestam por eles mesmos, sua cultura por si própria, suas origens, dores e resistências, suas atividades e vidas, seus dias e cores que lentes da mais alta tecnologia não tem o poder de incrementar: Astros de luz própria.

O povo se manifesta para quem? Será de interesse aparecer num raio maior que o seu berço, aquele que te trouxe à luz e ofertou todas as ferramentas para criação e sustentação de seus costumes? Será de interesse ser grande como os outros e pequenos dentro de si? Diria um admirável gado novo: O fim é parte da história. Acabar é uma das ações que contemplam o processo da existência, seja de uma espécie, povo ou costume. E submete a questão: Acabar como? Por que? Acabar por si ou pelos outros? Preciso neste ponto, antes de continuar, logo pedir um favor a vocês, homens híbrido-modernos: Se há um indício do nosso fim, deixe que o façamos por conta própria. Observe, apenas. Não interfira, mesmo que com suas boas intenções, mesmo com proposta de perdura. Conforme pediu, construímos vitrines para que possam apreciar, provadores para que experimentem, até comentários pós-degustação permitimos. Não é justo que agora, com seus conceituados discursos, nos ofertem vida longa. Seja capaz de perceber que nos mantivemos até aqui por pernas próprias, se tivermos de morrer que seja em nosso próprio túmulo posicionado no berço, onde a profundidade da terra abraça nossas raízes e sua concentrada homogeneidade afaga nossos anseios.

Quando assisto a determinados documentários com aquelas mulheres vestidinhas a caráter, esfregando talheres em seus pratos vazios, vejo muito mais que a ausência dos seus dentes, elas trazem consigo o peso farto da sobrevivência, o castigo soberano do sol que em vez de extrair suas forças, lhe permite abrir as pernas e parir junto com seus meninos a arte nomeada pelos homens do novo mundo. As mulatas em seus trajes coloridos rodam ao samba dos operários da terra que cultivam, adivinhem o quê? Suas culturas, é óbvio. O que mais haveria de cultivar um homem senão sua própria cultura? E elas sambam sim. Normalmente menos coloridas que os vestes de gala captados pelo zoom das lentes modernas, mas a força de seus verbos está nas mãos dos mulatos que deixam ecoar suas divinas vozes e percussões, afinadas ou não. Samba de roda Filhos de Nagô, Filhos do Caquende, Varre-estrada... Sambas de roda, de comunidades que varreram até aqui a vontade de fazer de suas vidas grandes obras.

O não convencional atraiu o curioso homem da imensa selva. Uns dizem que não é arte, outros tentam esmiuçar onde ela começa e onde termina, certos atrevidos levam os belos bois tecidos ao alcance das multidões-padrão-multiplicadas. E tantas outras manifestações se vão e não mais voltam a ser como antes, genuínas da dor, do ardor e do prazer de ser, apenas ser.

E se foi para se curvar à soberania, contestar suas imposições, adaptar-se à sua secular e nobre sabedoria ou comungar suas teorias cristãs, pouco importa, a igreja católica nutriu tantas destas manifestações que não podia ficar do lado de fora desta circunferência de ideias. Aliás, a modeladora de costumes dos povos que colonizou com sua fundamental influência construiu junto com estes persistentes a arte, cultura e tudo mais que manifestam em suas tradições, religiosas ou não.

Se pudesse atrever-me a opinar sobre as expressões culturais dos sobreviventes grupos periféricos diria que nossos homens trouxeram de além-mar razões para viver além-dor, além-preconceito, além-exclusão e criar sucintamente algo além-arte, além-território, além-cor. Pois não são as danças, não é o percurso histórico, não são os personagens, não é a geografia, nem o sotaque e tão pouco os destaques dados pelos veículos modernos. Não é arte e não é cultura, não é espaço e muito menos tempo. É povo. Povo que vive segundo contexto ao qual pertence. Não tente separar, não tente nomear, não tente imortalizar. Deixe que ele se manifesta como pode, como sabe. Se desejar observe e fique à vontade. E se carece maiores detalhes, relaxe... Abra as pernas e se emprenhe de manifestações populares.

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