antes designado mercadoria da nação
arrancado dos seios de mãe
mareado por ventos e tempestades
irmãos ao mar
o chão que pisa desconhece
a mão que abriga chicoteia feridas
a natureza observa o respirar da vida
que não dá regalia
o destino negro é recomeçar antes de ser
acordar antes do amanhecer
dormir cedo e suado
o fardo negro é vaidade
e preguiça do senhor do tráfico
fragmentado na espécie que abortou
a carne é uma espécie de massa
modelada sem dó
na colonização deformada da raça sem cor
aquele que te “filhou” é opaco junto a ti
que plantou a terra com coração,
silenciou na mata velada,
velou a cachoeira mais alta
e bebeu água pura de sabedoria
faz tanto tempo que estou aqui... não lembro como a pele
desbotou e o cabelo amoleceu. Talvez na lama do alimento, no barro da engoma,
na areia do terreiro... Não sei.
Agora eu vejo de fora, falo de perto e sinto de dentro o que
a gente viveu nessa terra onde batalha é dia e celebrar é ordem de deus.
banhei nas águas do cabo verde, no rio senegal
cortei meus sonhos em cachoeira, no canavial
sonhei outra vez
para rezar meu povo canta
para comer a gente reza
a alquimia perfeita é oração manifesta
na praça da capital me chamaram vadia e só de pirraça, cheia
de graça, eu dancei.
dancei o saber do meu povo
que disseram saber de nada
na umbigada, quem dança comigo sente
revelando o que pensou desconhecer
a dança declara que não foi de graça
aonde a dor foi semeada
água é o que não falta
e fertiliza alegria por onde passa
para as batalhas que ainda nascem com o sol, preparamos novas
armas e usamos a mesma armadura, tão velha quanto renovada, que chamamos de alma.
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